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HABITAT
Ibama quer enviar animais brasileiros a Johannesburgo
Dúvidas sobre zoológico atrasam "repatriação" de leões para África
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Primeiro eles entraram no Brasil, provavelmente vindos da África, sem autorização nem controle
dos órgãos públicos nacionais.
Depois trabalharam em circos,
deram crias "brasileiras", foram,
em sua maioria, maltratados e, finalmente, abandonados à própria
sorte. O governo brasileiro, com
outros problemas sobre os quais
se preocupar, resolveu "repatriá-los": mandá-los para um zoológico particular na África do Sul.
Estava tudo certo para o embarque amanhã, mas havia uma pedra no meio do caminho. Ou melhor, dúvidas levantadas pelo governo sul-africano a respeito do
local que seria a nova casa deles.
Agora os 20 leões sem teto que
iriam embora do Brasil devem ficar no país por tempo indefinido,
até que o equivalente ao Ibama
(órgão ambiental federal brasileiro) da África do Sul se convença
das razões pelas quais o Animal
and Reptile Park Zoo, de Pablo
Urban, em Johannesburgo, quer
mais leões e de que o local tem
condições de infra-estrutura para
receber os animais brasileiros.
Em documento oficial, ao qual a
Folha teve acesso, o Departamento da Agricultura, Conservação,
Ambiente e Terra diz não "estar
claro" por que Urban quer importar leões se tem um "zoológico pequeno" já com uma série de animais, inclusive dois leões.
O departamento diz ainda que
não vê como a chegada de mais
leões iria acrescentar algo em relação ao principal objetivo de um
zoológico, a educação. E, como
esses animais não estão ameaçados na África do Sul, o órgão sustenta que os dois leões existentes
no parque já são o suficiente.
Enquanto o governo sul-africano não autorizar o zoológico a receber os leões, eles não podem
deixar o Brasil porque a transação
é regulada pela Cites (Conferência
sobre o Comércio Internacional
de Espécies Ameaçadas de Fauna
e Flora), da qual os dois países são
signatários. Levar animais de um
país a outro sem consentimento
de ambos é considerado tráfico.
Entidades de proteção aos animais temem que os animais estejam indo, na verdade, para fazendas de caça "enlatada" (canned
hunting), onde são presas fáceis
para caçadores que pagam fortunas por um troféu na parede, afirma Elizabeth Mac Gregor, representante da WSPA (sigla em inglês para Sociedade Mundial de
Proteção aos Animais) no Brasil.
"O Ibama poderia usar os R$ 30
mil que vai gastar exportando esses animais para melhorar as condições de refúgios já existentes no
Brasil, de forma que os leões ficassem por aqui mesmo", sugere.
"O poder público transferir dinheiro para entidades de caráter
privado é juridicamente muito
complicado", diz Rômulo Mello,
diretor de fauna e recursos pesqueiros do Ibama. Ele diz considerar as questões colocadas pelo
governo sul-africano como normais e diz estar tranquilo quanto
à escolha do zoológico. "Se parar
meia dúvida formal de que o local
é adequado, os animais não vão."
Enquanto isso, parte dos leões
continua em refúgios e parte em
zoológicos e unidades do Ibama,
aguardando o desfecho da novela.
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