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comentário
O poder é afrodisíaco e o sexo sobe à cabeça
Donos de clínicas de massagem da região de Congonhas
descobriram antes que o orgasmo amacia o apagão aéreo
XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Foram alguns donos de
saunas e clínicas de massagens
na região do aeroporto de
Congonhas, e não a ministra
Marta Suplicy (Turismo), que
descobriram a novíssima
função do orgasmo: a de
amaciar o apagão aéreo que
tanto enlouquece a estressada
classe média brasileira.
Quando a ex-prefeita sacou
da luxuosa nécessaire da inconveniência o velho conselho -livremente inspirado no psicanalista Wilhelm Reich (1987-1917)-, a indústria do sexo em
São Paulo já estava cansada de
recolher passageiros nos saguões e levá-los para o clássico
"relax for man" das casas do ramo nos bairros do Brooklin e de
Moema, zona sul da cidade, onde os aviões demasiadamente
humanos e siliconados batem
ponto conforme o relógio biológico do desejo masculino.
Reich, não custa lembrar para os mais jovens, esses moços,
pobres moços, era um cara que
só pensava naquilo, no orgasmo como remate de todos os
males da humanidade, inclusive os de origem política. O rapaz do relaxa e goza anda fora
de moda faz tempo na Stressolândia, como poderíamos rebatizar a paulicéia, por supuesto,
sem se falar na geografia da fome de outros Brasis afora.
Algumas destas saunas, no
auge da crise, mantinham
serviços de vans e ofereciam
o pacote "relaxe e goze" para
os homens condenados à
espera dos aviões. Só para os
homens, vê que triste. Na
oportunidade, foram desenvolvidos também programas especiais de milhagem que são mantidos até hoje -vide anúncios
classificados dos jornais.
Afrodisíaco
O poder é mesmo afrodisíaco, como dizia o doutor
Ulysses Guimarães (1916-92),
todo-poderoso peemedebista
que ocupou, sem fastio, todos
os cargos da República. E quando relaxam no poder, o sexo e o
dom de falarem como pessoas
"normais" sobem mesmo à cabeça dos políticos.
Em uma década e meia de entrevistas com essa gente, como
repórter da zoologia fantástica
politiqueira, lembro da cena
mais repetitiva. Sempre que os
gravadores são desligados vem
uma sacanagem radicalmente
machista ou alguma frase sobre
sexo. Relaxa e goza é fábula de
Esopo diante do que ouvimos.
Os repórteres morremos de rir
sem desabrimentos nessa hora.
Não publicamos nada.
A diferença é que alguns políticos, muitas vezes, não têm paciência para esperar esse instante "relax", o stop dos gravadores, caso da ministra-sexóloga, que falou exatamente o que
estava acostumada a aconselhar no "TV Mulher" (Globo),
quando era comentarista
especializada, aliás era linda e
incrível ao aconselhar o sexo
anal para oprimidas donas-de-casa. Sempre com muito cuidado, é claro, além da pedagogia
quase paulofreiriana.
Além muito além das várias
Martas, a sexóloga e a ministra,
o público e o privado, essa
dupla caipira que faz confusão
entre primeira e segunda
voz nos inconscientes dos políticos e de nós todos, sempre
apronta, não tem jeito.
Noves fora a chatice do já
mofado politicamente correto,
as frases dos machos políticos
são impublicáveis, as frases das
fêmeas soam normalmente como destempero, TPM, histerismo. É tanto que as fêmeas
públicas não se arriscam à sessãozinha pornográfica que os
machos têm com os repórteres
depois das entrevistas.
Muitos repórteres ou colunistas que agora desforram do
"relaxa e goza", muitos aliás
que não fazem nem uma coisa
nem a outra faz tempo, já ouviram calados ou nunca foram
capazes de escrever uma frase
de deputados porcos chauvinistas, mesmo que essas tivessem ligações diretas com a realidade pública. No mínimo,
eram boas imagens, metáforas
inconscientes, só para gastar
aqui meus 15 minutos de psicanálise, sou uma espécie de
novo-rico freudiano, se é que
vocês me entendem.
E quando a sacanagem não é
sexual, geralmente descamba
para o preconceito ou o palpite
infeliz de sempre. Tudo isso
começou com o coronel Chico
Heráclio (1920-1974), líder
político de Limoeiro, Pernambuco, que um dia, no couro
curtido do seu machismo, disse
assim: "Mulher é feito espingarda, só presta se for guardada". A fêmea continua sendo
uma arma quente!
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