|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Manobras de ressuscitação, mesmo que aplicadas por um leigo, aumentam as chances de sobrevivência
Ataque cardíaco exige socorro imediato
BERTA MARCHIORI
DA REDAÇÃO
No último dia 26 de junho, milhares de pessoas em todo o mundo que acompanhavam Camarões x Colômbia pela Copa das
Confederações viram mais que
um jogo de futebol: assistiram, de
camarote, à morte do jogador camaronês Marc-Vivien Foe.
O acontecimento chocou o
mundo por Foe ser um atleta e ter
apenas 28 anos e chocou ainda
mais os médicos por causa do
atendimento de emergência que o
jogador recebeu no estádio.
Não é possível dizer que ele teria
sido salvo, mas os profissionais
ouvidos pela Folha foram unânimes em afirmar que, caso os procedimentos tivessem sido aplicados corretamente -como fazer
manobras de ressuscitação de
imediato, e não sete minutos depois, como ocorreu-, talvez Foe
tivesse tido alguma chance.
Nos Estados Unidos, 450 mil
pessoas morrem a cada ano por
ataque cardíaco maciço, denominado também morte súbita. Na
Europa, esse número sobe para
500 mil. No Brasil, dados de 1998
apontam que 159.256 pessoas sucumbem todo ano, o que significa
820 óbitos por dia ou uma morte a
cada minuto. Cerca de 95% das
mortes ocorrem antes de a vítima
chegar a um pronto-socorro.
A morte súbita cardíaca, segundo Sergio Timerman, 45, presidente da Fundação Interamericana do Coração e membro do Comitê Mundial de Emergência, é
uma interrupção entre os sistemas elétrico e mecânico do coração, que ocorre subitamente, 50%
das vezes sem que a vítima tenha
história prévia de problemas cardíacos. Não é o mesmo que infarto do miocárdio -necrose de
parte do coração provocada por
obstrução de artéria.
De acordo com ele, a morte súbita cardíaca, no mundo, mata
mais que armas de fogo, acidentes
de carro, Aids e câncer de próstata
e de mama juntos.
Apesar do nome, a vítima de
morte súbita, se socorrida rápida
e corretamente, pode se recuperar. E essa possibilidade não depende só do sistema de emergência, que, em algumas cidades, como São Paulo, deixa a desejar. Os
primeiros socorros (veja quadro),
mesmo que executados por leigos, são fundamentais para que o
final da história não seja o mais
trágico. Se não socorrido, alguém
com parada cardiorrespiratória
-que pode ser decorrência da
morte súbita ou de outros problemas- perde, a cada minuto, 10%
da chance de sobreviver.
No entanto, cerca de 90% das
mortes súbitas ocorrem por fibrilação ventricular (caos elétrico, o
coração bate acelerada e desordenadamente), que pode ser corrigida somente com equipamento de
choque, o chamado desfibrilador.
Por isso os médicos defendem
que todos os lugares em que haja
concentração de pessoas tenham
o aparelho. Atualmente, já existem desfibriladores que até "falam" português, desenvolvidos
para serem utilizados por leigos.
O acesso público ao desfibrilador
é uma tendência mundial já adotada por diversas cidades. Especialistas afirmam que, por ano, 50
mil vidas a mais poderiam ser salvas com um sistema de emergência mais efetivo, que contemple o
acesso público ao desfibrilador,
que custa cerca de US$ 5.000.
Um leigo que presencie um ataque cardíaco não tem como saber
se o paciente está fibrilando, daí a
importância de fazer os procedimentos de emergência mesmo
sem haver um desfibrilador.
Foi a rapidez do socorro que
"ressuscitou", como disseram os
médicos à época, João Alberto Zani, 59, dono de uma indústria de
móveis em Araras (SP). Às 9h30
de uma sexta de março, Zani teve
uma parada cardíaca quando
atendia ao telefone e foi levado a
um posto dos bombeiros, a poucos minutos de sua fábrica.
O Corpo de Bombeiros de Araras faz parte do Samu (Serviço de
Atendimento Municipal de Urgência) local, projeto piloto implantado há cerca de um ano e
meio por iniciativa do cardiologista Agnaldo Pispico, 37, diretor
do centro de emergência da Socesp (Sociedade de Cardiologia
do Estado de São Paulo).
O sistema permitiu que a sobrevida de casos de parada cardiorrespiratória tenha crescido de
1,65% para 10,85%. A meta, diz
Pispico, é de 30% em cinco anos.
Zani não só sobreviveu como
voltou ao batente 50 dias depois
de ter saído do hospital.
Texto Anterior: Festa no interior: Clube ainda busca verba para premiar peão em Barretos Próximo Texto: Projeto buscará preparar criança Índice
|