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Especialistas criticam privilégio
DA SUCURSAL DO RIO
Especialistas ouvidos pela Folha criticaram o privilégio da zona
sul carioca na distribuição do policiamento. Para eles, os bairros
nobres têm mais policiais do que
as regiões mais carentes por razões políticas.
Para o coronel da PM José Vicente da Silva Filho, ex-secretário
Nacional de Segurança Pública do
governo FHC, a distribuição do
policiamento deve levar em conta
a população da área e os índices
criminais. "Isso é um fundamento
primário, do século 19", disse.
Silva Filho disse acreditar que o
favorecimento da zona sul é por
questões políticas e por culpa da
própria mídia.
"O que acontece nas áreas mais
carentes é considerado mera estatística. Os pobres da periferia não
têm expressão. A zona sul repercute mais por causa da mídia. As
pessoas de lá têm relação com o
chefe de polícia, com o governo e
tudo mais", afirmou.
O oficial, que é paulista, disse
que o fenômeno que ocorre no
Rio não se repete em São Paulo.
Segundo ele, pelo menos nos últimos três anos, a polícia paulista
tem feito ajustes para acabar com
discrepâncias entre as zonas sul e
leste, as mais problemáticas, e as
norte e oeste, menos violentas.
O pesquisador da Universidade
Cândido Mendes, Gláucio Soares,
disse que a distribuição do policiamento tem que ser de acordo
com a taxa de homicídio da área.
Para Soares, essa discrepância
só será resolvida se as autoridades
pararem de misturar segurança
pública com política.
O sociólogo Cláudio Beato, do
Crisp (Centro de Estudos de Criminalidade) da Universidade Federal de Minas Gerais, disse que o
privilégio dado a zona sul acaba
transformando as áreas mais pobres, como a Baixada Fluminense, em "guetos".
"Você tem mais polícia para
cuidar dos ricos, e deixam as regiões mais pobres deteriorarem,
virarem cordões sanitários onde o
pau pode quebrar", disse.
(MHM)
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