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GILBERTO DIMENSTEIN
Ciro se enrola no teste de inteligência emocional
Na onda da inteligência emocional, lançada nos Estados
Unidos, empresas de recursos humanos já oferecem no Brasil cursos que treinam psicologicamente
os executivos para a administração de conflitos.
O objetivo dos cursos é preparar
dirigentes de empresas para manter a calma mesmo em meio à
mais aguda adversidade, quando
as brigas explodem, os ânimos se
exaltam e as equipes se vêem à
beira de um ataque de nervos.
Contornar a exaltação dos subordinados e transformar impasses
em ações produtivas confere alto
"Q.I." emocional ao executivo, o
que aumenta seu valor.
Os cursos atendem a uma demanda do mercado. Para Elaine
Saad, diretora da empresa de recursos humanos Right, Saad e Fellipelli, cobram-se dos altos executivos muito mais as habilidades
de administração de pessoas e
conflitos do que propriamente as
suas características técnicas. "O
grande administrador de uma
empresa sempre conta com uma
equipe técnica que deve ser a melhor. Ao executivo cabe ter características que proporcionem o
bom trabalho dessa equipe", afirma Elaine.
Em pesquisas com empresários,
a Manager, empresa de recrutamento de profissionais, detectou a
preferência por funcionários que
controlem as emoções. "Nossos
clientes têm receio de que seu futuro contratado seja descontrolado, egocêntrico e intolerante. Esse
perfil é capaz de acabar com os
negócios de uma empresa", afirma Lúcia Pinho, gerente de seleção da Manager.
"Executivos de currículos invejáveis já perderam emprego por
destratarem funcionários", informa Elaine Saad.
Essa tendência no mercado de
trabalho ajuda a entender por
que grandes empresários brasileiros se sentem mais protegidos (ou
melhor, menos desprotegidos) por
Lula do que por Ciro Gomes. "O
Brasil não pode ter um presidente
de pavio curto", cutuca Antônio
Ermírio de Moraes, refletindo o
temor de largas fatias do empresariado.
Cultua-se, nas empresas, a figura do executivo equilibrado, capaz de ouvir e de aguentar em silêncio os cutucões em nome da estabilidade. Daí, em parte, o apreço das elites pelo temperamento
de Fernando Henrique Cardoso.
Somem-se a isso as lembranças,
para muitos ainda frescas, de políticos temperamentais como Jânio Quadros, João Figueiredo e
Fernando Collor. Nenhum dos
três, como se sabe, acabou bem o
mandato presidencial.
Ciro Gomes espanta menos por
suas idéias que pela impressão
que transmite de ter um temperamento mercurial, de ser alguém
capaz de aumentar crises e vitaminar conflitos. Espertamente,
Lula apresentou-se na sabatina
da Folha, na semana passada, como o "avô" tolerante e conciliador. E Serra está fazendo o possível, pelo menos nas eleições, para
dissipar sua imagem de mal-humorado, centralizador, com dificuldades de trabalhar em grupo,
arrogante -sinais de baixa inteligência emocional que, em parte,
explicam as dificuldades de sua
campanha.
Ciro Gomes se desentende facilmente com os repórteres, imagina
complôs na mídia, vê provocação
no que é simples pergunta, chama
fotógrafos de "babacas". No ar,
xingou um ouvinte de "burro".
Em Curitiba, aborreceu-se numa
caminhada e, abruptamente, pegou um táxi e foi embora sem avisar ninguém.
Na quarta-feira passada, em
jantar com empresários, irritou-se com uma pergunta e esbravejou: "Quero que o mercado se lixe". É uma frase menos polida
(até porque não estava na frente
das câmaras) do que "não me
curvarei ao mercado", dita na sabatina da Folha.
A dúvida óbvia que se coloca é:
se, antes de virar presidente, comporta-se desse jeito, imagine-se
como se comportará quando estiver sentado no Palácio do Planalto, cercado de bajuladores.
O medo do descontrole de um
presidente estava particularmente agudo na semana passada.
Mesmo depois do empréstimo do
FMI, classificado de extraordinário pelos analistas, a turbulência
continuava. Um dos mais influentes jornais de economia do
mundo (o "Financial Times")
alertou para o risco de colapso
brasileiro.
Injusto (injustíssimo, aliás) colocar a culpa da instabilidade
econômica apenas nos candidatos. Ciro Gomes tem razão ao dizer que o presidente Fernando
Henrique Cardoso, ao insistir na
própria reeleição, evitou medidas
que deixariam o Brasil menos exposto. Lembre-se (e mais uma vez
Ciro acerta) de que, quando assumiu, FHC encontrou o país com
saldos na balança comercial.
Independentemente de ter provocado essa crise, o fato é que, devido à vulnerabilidade do país, o
perfil psicológico do candidato será um dos ingredientes dessa eleição -e até agora Ciro Gomes
não conseguiu desfazer a impressão de que esse é um dos seus pontos mais frágeis.
Comparar Ciro a Collor é, como
tenho dito nesta coluna, uma
grosseira manipulação. Mas incertezas sobre sua estrutura psicológica para lidar com os conflitos
num país mergulhado em tamanha crise são fundadas -e municiadas pelo próprio Ciro.
PS - Errei. Por não ter lido integralmente a proposta de Ciro Gomes para o vestibular, publiquei
análise equivocada. É dele, porém, a melhor idéia. Ele defende a
aplicação, durante os três anos do
ensino médio, de um teste como o
Enem, no qual se privilegie a associação de conteúdos. Trata-se
de um mecanismo mais eficiente
do que fazer apenas um teste num
único ano.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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