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Aluno de baixa renda ganha espaço nas universidades
De 2004 a 2006, total de estudantes com renda de até 3 salários mínimos subiu 49%
ProUni, aumento de vagas e expansão da classe média foram responsáveis pelo aumento; segmento, porém, ainda é subrepresentado
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Puxada pelo ProUni, pelo aumento de vagas e pelo alargamento da classe média, a participação de alunos de baixa renda no ensino superior do Brasil
cresceu nos últimos anos.
De 2004 a 2006, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) registrou um aumento de 49% na proporção de
universitários com renda familiar mensal de até três salários
mínimos -de 10,1% para 15,1%,
segundo dados tabulados pelo
pesquisador Simon Schwartzman, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).
Na população em geral, a
proporção de pessoas com essa
faixa de renda subiu apenas 8%.
Embora tenha ganhado mais
espaço, esse segmento ainda
está subrepresentado no ensino superior, já que, em 2006, o
total de brasileiros com renda
de até três salários mínimos era
muito maior -55,2%.
Considerando a baixa base de
comparação, especialistas
apontam que o ProUni tem impacto significativo no movimento de ingresso de alunos
mais pobres no ensino superior: em 2006, entraram 360
mil alunos de baixa renda a
mais do que em 2004; o programa do governo federal, que começou em 2005, ofereceu 204
mil bolsas no período.
Regina Vinhaes, da UnB
(Universidade de Brasília)
acrescenta que, nos últimos
dez anos, a oferta de vagas no
ensino superior mais do que
quadruplicou, puxada principalmente pela rede particular.
Ryon Braga, da Hoper Consultoria, aponta ainda a ampliação do financiamento educacional e a queda dos preços cobrados por instituições privadas como explicações. Estudo
feito por ele mostra que, em
1996, o valor médio da mensalidade era de R$ 840, em valores
corrigidos. Hoje, é de R$ 427.
A médio e a longo prazo, porém, a sustentabilidade desse
movimento de abertura do ensino superior à população de
baixa renda ainda é incerta.
"Uma dificuldade para a expansão é que o ensino médio
não está formando gente suficiente, e o ProUni já tem dificuldade de encontrar candidatos", aponta Schwartzman.
"Além disso, vai depender da
capacidade das pessoas de pagarem, o que vai depender,
também, da economia", afirma.
Desde 2000, o patamar de
alunos que concluem o ensino
médio está estacionado em cerca de 2 milhões. Já o ProUni
tem alto índice de bolsas ociosas -39% na última seleção.
Responsável pelo programa,
o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação,
Ronaldo Mota, argumenta que
os jovens egressos do ensino
médio são apenas parte do público que passou a entrar na
universidade. "Mais de 40%
dos ingressantes vêm do mundo do trabalho, já se formaram
há muito tempo e não tiveram
oportunidade na época", diz.
Limitações
Líder de uma associação que
reúne bolsistas do ProUni,
Adriana Ferreira, 42, é um
exemplo tanto do quadro traçado pelo secretário como das limitações do programa.
Ex-assistente administrativa
em Minas, ela entrou na universidade 22 anos após se formar no ensino médio. Separada, mãe de três filhos e com
renda de um salário mínimo,
ela diz que, sem o ProUni, não
conseguiria se manter por três
semestres no curso de letras.
Por problemas de saúde, porém, parou de trabalhar, ficou
inadimplente e perdeu a sua
bolsa, que era parcial. Adriana
lamenta -"eu ia ser a primeira
pessoa a ter nível superior na
minha família"-, mas diz que
só tentará voltar à universidade
se conseguir um salário melhor. "Mesmo se eu tivesse bolsa integral, teria problemas para pagar a locomoção e a compra do material."
Enade
O aumento do total de pessoas de baixa renda no ensino
superior é corroborado pela
comparação entre os questionários socioeconômicos respondidos nas edições de 2004 e
de 2007 do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), que avaliou as áreas
de saúde, ciências agrárias e
serviço social -USP e Unicamp
não participam.
Nesses cursos, a proporção
de calouros com renda de até
três salários mínimos cresceu
de 24% para 40%. O percentual
é maior na rede privada do que
na rede pública -37% contra
31%, respectivamente.
Se forem consideradas as
áreas examinadas, medicina
tem a maior proporção de alunos que cursaram todo o ensino
médio na rede privada -80,9%.
Já no curso de serviço social,
os estudantes oriundos da escola particular são minoria
-apenas 15,4%.
"Em medicina, as universidades públicas oferecem muito
poucas vagas, e as particulares
são muito caras", afirma Ryon
Braga.
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