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Embaixador acusa Israel de barrar filha por ter nome árabe
Diplomata brasileiro diz que a filha Laila, que viajou ao país para passar as férias, ficou detida no aeroporto por três horas
Governo israelense nega a versão e diz que episódio durou três minutos; "não deve ser dada dimensão política ao caso", afirma Itamaraty
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais um brasileiro barrado
no exterior causou desta vez
um incidente diplomático entre Brasil e Israel. O embaixador brasileiro em Tel Aviv, Pedro Motta, acusa os agentes do
serviço de imigração israelense
de deter a filha Laila -que significa "noite", em hebraico e
árabe- por ela aparentemente
ter nome de origem islâmica.
Aluna do sexto ano de medicina da Universidade Católica
de Brasília, ela chegou ao aeroporto internacional Ben Gurion, que tem um dos esquemas
mais rígidos de segurança do
mundo, à meia-noite da última
quinta-feira, para passar as férias com os pais (a mãe, Moira,
também é diplomata brasileira) e fazer um curso num hospital israelense.
Ficou detida por três horas e,
segundo Motta, só teve a entrada permitida no país depois da
intervenção de um alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores de Israel.
Em nota, o Ministério do Interior israelense nega a versão
do embaixador e diz que o episódio durou apenas três minutos. No Brasil, a embaixadora
de Israel, Tzipora Rimon, informou à reportagem que o incidente é "triste" (leia texto).
Por telefone, de Tel Aviv,
Motta disse à Folha que o incidente é "muito sério" e que recebeu tratamento "agressivo" e
"desrespeitoso" das autoridades israelenses e que chegou a
ser expulso da seção de imigração, mesmo tendo mostrado as
credenciais de embaixador
emitidas por órgãos locais.
"O incidente não foi só com
ela. Foi comigo também. Identifiquei-me ao chefe da seção e
quis saber o que estava acontecendo com a minha filha. O sujeito me tratou de forma agressiva e disse: "não tenho nada
para falar com você, saia da minha sala'", disse Motta, que
afirma ter mandado uma nota
de protesto ao Ministério de
Relações Exteriores de Israel.
Para o Itamaraty, o assunto
"é de esfera protocolar e não
deve ser dada dimensão política". Primeiramente, cogitou-se
que a embaixadora israelense
Tzipora Rimon seria convocada pelo chefe do departamento
de Oriente Médio do Itamaraty, Sarkis Karmirian, para
dar esclarecimentos sobre o
episódio. Mas a convocação foi
descartada, segundo o ministério, por "não haver nenhum fato político que justifique".
Lamentável
"Foi um incidente consular
lamentável, mas não haverá
convocação de embaixador,
que é para assuntos políticos. A
conotação política é dada porque ele é embaixador", disse o
diplomata e assessor do ministério Assir Madeira.
"O incidente em si é desagradável. O mais grave é o fato de
eu ter me identificado como
embaixador do Brasil e não terem reconhecido as credenciais
do próprio ministério deles. E
questionaram a minha filha
sem motivo aparente, sem motivo nenhum", afirma Motta.
Segundo o embaixador, ao
saber que o vôo da filha tinha
chegado ao aeroporto, ele e a
mulher, com as credenciais diplomáticas, entraram na área
de bagagem. "Eu a vi na fila de
imigração, acenei. Depois de
uma hora e meia ela não apareceu", disse Motta.
Ao pedir informações a um
policial, Motta diz ter sido encaminhado com a mulher a
uma sala da seção de imigração,
onde encontrou Laila com turistas de outras nacionalidades.
O embaixador diz ter se apresentado como tal e que o chefe
do setor o expulsou dali, sem
reconhecer suas credenciais.
"Vi que a situação era complicada, telefonei e acordei o
chefe do protocolo da chancelaria local às 2h da manhã. Disse o que estava acontecendo e
ele me pediu que passasse para
o chefe da seção. E o sujeito não
quis falar", diz o embaixador.
"O nome dela não tem nenhuma relação com o árabe,
mas mesmo se tivesse, por que
ela merece ser tratada dessa
maneira?", completa.
Motta disse ter ligado para a
sala de emergência do Ministério das Relações Exteriores,
que entrou em contato com o
diretor do aeroporto Ben Gurion. Só depois disso a filha teve
a entrada liberada e o passaporte devolvido. Ainda assim, segundo Motta, a família foi retida na saída por cinco minutos, e
mais uma vez as credenciais diplomáticas não foram reconhecidas. "E para piorar, perderam
até a bagagem dela."
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