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AMBIENTE
Folha percorre local 15 dias depois de acidente que matou 208 t de peixe
Rio Pardo agoniza após vazamento, afirma pescador
AFRA BALAZINA
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
Um rio sem vida. É essa impressão que se tem ao percorrer o Pardo, que foi atingido por um vazamento de melaço no último dia
29. No desastre, o maior já registrado no Pardo, morreram 208 toneladas de peixes, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
A reportagem da Folha refez,
em dois dias de viagem pelo rio, o
caminho da mancha de 8 milhões
de litros de melaço, desde a Usina
da Pedra, em Serrana, até a colônia de pescadores de Colômbia,
na divisa com Minas Gerais.
Durante o trajeto, de 150 km,
observou que, nas margens, as
centenas de puleiros (ou tablados) destinados aos pescadores
profissionais e amadores estavam
vazias. Em condições normais,
pelo menos um terço deles é ocupado durante a semana.
O primeiro barco só foi encontrado após nove horas e 25 minutos de viagem. O jardineiro Alaor
Marcelino, 55, e o aposentado José Ferreira, 53, estavam navegando desde o início da manhã. "Só
pegamos 20 piauzinhos e acho
que eles nem são do Pardo. Vêm
do Mogi [Guaçu]", disse Ferreira.
Até o fim da viagem, a reportagem só encontrou mais dois barcos de pescadores, tão ou mais desanimados que a dupla.
O aposentado Luiz Carlos Dellagostini, 54, que pesca no rio há
20 anos, afirma que percebeu a diferença após o desastre. "Antes
estava até bom de peixe. Hoje, é
impossível pegar alguma coisa
com vara de mão. Tem que usar
molinete, carretilha. Acabou o
nosso divertimento."
"Agonizando"
Os pescadores profissionais
Lauriano Ortega Neto, 40, e Arlindo de Paula Rodrigues Júnior, 40,
na área há cinco anos, também reclamaram. Eles usam o método
"joão bobo": colocam galões com
linha e isca no rio e, quando o galão afunda, é sinal de que pegaram algum peixe. Ortega Neto explicou que, em três dias, eles costumavam pegar 120 kg de peixe.
Agora, conseguem apenas 15 kg.
"O rio não está totalmente morto,
mas está agonizando", afirmou.
As consequências do melaço,
uma matéria-prima para a fabricação do álcool combustível, para
o rio e para as pessoas que moram
perto dali e dependem do Pardo
para viver eram visíveis, mesmo
15 dias depois do vazamento.
O cheiro de decomposição dos
peixes mortos já não era tão forte
-de acordo com rancheiros que
estavam na área quando ocorreu
o acidente, nos primeiros dias, o
odor era insuportável-, mas
urubus ainda sobrevoavam o rio.
Outro sinal de abandono era visível nos bares e restaurantes ao
longo das margens. "Não estou
nem renovando meu estoque de
cerveja porque pouca gente passou por aqui desde o acidente",
disse Vitório Valques Vasconcelos, 66, dono de um bar-rancho
no município de Jardinópolis.
Segundo o Ibama, o Pardo vai
levar "anos" -não há uma previsão exata- para se recuperar. A
usina da Pedra, responsável pelo
acidente, foi multada em R$ 10
milhões pelo Ibama.
Esgoto também
O trecho depois da confluência
entre o rio Pardo e o córrego Ribeirão Preto é o que está mais sujo
e com maior quantidade de lixo.
Ali, a água era muito mais escura que em outras áreas, com um
tom quase negro. Não havia a
possibilidade de enxergar o que
havia sob a superfície.
Uma das explicações para o trecho ser o mais poluído é Ribeirão
Preto fazer o tratamento de apenas 60% de seu esgoto.
Segundo Otávio Okano, da Cetesb (agência ambiental paulista),
a poluição em todo o rio acontece
porque nem todas as cidades fazem o tratamento total do esgoto
e porque muitos rancheiros jogam seus lixos diretamente no rio.
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