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SAÚDE
Estudos mostram que até 80% dos pacientes abandonam tratamento com medicamentos ou psicoterapia
Desistência é barreira para tratar depressão
DA REPORTAGEM LOCAL
Se na maioria das doenças é difícil que pacientes prossigam o
tratamento, imagine o que ocorre
com a depressão, cujo principal
sintoma é a falta de vontade de fazer as coisas.
Estudos feitos fora do país mostram que até 80% dos pacientes
abandonam o tratamento para a
depressão, seja o realizado com
remédios ou psicoterapia, o que
traz o problema da falta de adesão
ao centro dos debates sobre a
doença. Esse foi o tema de uma
das principais mesas redondas do
último Congresso Brasileiro de
Psiquiatria, que terminou na última sexta-feira em Goiânia (GO).
De 20% a 25% da população teve, tem ou terá depressão. Nos
episódios espontâneos -aqueles
que não têm relação com um acidente ou uma morte na família,
por exemplo- há 50% de possibilidade de que se tornem recorrentes. Na maioria desses casos, o
paciente terá de tomar remédios
pelo resto da vida para viver bem.
"A depressão recorrente, que
causa várias crises, pode atingir
até 3% da população. E se não tratados, 15% dos pacientes suicidam-se", diz o psiquiatra Rogério
Wolf de Aguiar, coordenador
científico do congresso.
Além disso, quanto mais ocorrências, maior o risco de a doença
não responder ao tratamento médico e de se tornar crônica.
Fernando Grilo Gomes, professor de psiquiatria da UFRGS
(Universidade Federal do Rio
Grande do Sul), que pesquisou o
porquê do abandono do tratamento, diz que o sucesso está relacionado principalmente à criação
de um vínculo entre médico e paciente. Por isso é preciso evitar a
troca frequente de terapeuta.
Gomes acompanhou 40 duplas
de médicos e de pacientes depressivos no segundo semestre do ano
passado. Estavam mais comprometidos os pacientes que perderam "o estigma da doença", como
diz Gomes. "Aqueles que entendem que não têm culpa, que se
trata de uma doença como outra
qualquer", afirma o médico.
Estar precavido quanto a possíveis efeitos colaterais de antidepressivos (como o ganho de peso)
também teve impacto positivo sobre a adesão ao tratamento.
A gama de mais de 30 antidepressivos existentes hoje no mercado, no entanto, traz maior possibilidade de evitar os efeitos indesejáveis.
Determinantes para adesão
No estudo inglês "The Task Force for Compliance" (Força-Tarefa
para Adesão), realizado entre
1993 e 1994, sobre adesão a vários
medicamentos, verificou-se que
até 21% dos pacientes não adquiriam o receitado, até 59% não seguiam as instruções corretamente, 32% não compravam a segunda caixa do remédio e 15% abandonavam tudo antes do tempo.
Além da aliança médico-paciente, o uso de drogas de rápida
ação, de poucos efeitos colaterais
e fáceis de usar, é determinante
para a continuidade de tratamentos, diz Antônio Geraldo da Silva,
presidente da residência médica
em psiquiatria da Universidade
de Brasília e debatedor da questão
da adesão no congresso.
No caso da depressão, ele enfatiza a necessidade de igual colaboração entre médicos e pacientes.
O uso de álcool, café e nicotina em
excesso com antidepressivos deve
ser discutido. Com esses complicadores, afirma Silva, não há tratamento que dê certo. Segundo o
médico, na psicoterapia é necessário ficar alerta para tratamentos
longos que não dão resultado.
(FABIANE LEITE)
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