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DANUZA LEÃO
Entre a fome e o bordel
Volta e meia as televisões estampam, com destaque,
uma história de mocinhas que
são seduzidas com a promessa de
bons empregos na Europa e acabam caindo numa rede de prostituição que movimenta bilhões
por ano etc. etc. A Interpol vai
agir e mais etcs. ainda.
Fico pensando que jamais se
ouviu falar de uma sueca, uma
inglesa ou uma dinamarquesa
que tenha caído nessa rede, já que
em seus países existe o acesso à
educação, ao emprego e à assistência médica para todos. As "escravas brancas", como eram chamadas, são todas de países pobres, costumam passar fome e o
único futuro mais risonho será
encontrar emprego numa casa de
família, já que mal sabem ler e escrever.
Saber que jovens mocinhas caíram na prostituição é triste, claro
que é. Mas quando penso que essas moças levavam uma vida de
bicho em casa -quando não há
dinheiro nenhum a vida é muito
difícil-, que grande parte delas é
abusada sexualmente por um tio
ou um pai (são dois quartos para
a família inteira, e as mocinhas
vão crescendo e ficando desejáveis)... O pudor, o decoro, a sensibilidade, são coisas com que se
nasce, mas que sobretudo se aprimora -quando se pode.
Nós, no nosso conforto, achamos que é uma ignomínia uma
dessas moças ir para a cama com
um desconhecido para ganhar
R$ 20 ou R$ 30. Talvez para ela,
que anda descalça no mato levando uma lata de água para poder cozinhar, vendo uma penca
de irmãos mais moços também
sem destino e sem ter noção do
que deve ou não deve ser feito,
sair dali, pegar um avião para um
país estrangeiro, botar um top de
paetês, passar a noite dançando e
depois cair na cama com um freguês não seja tão ruim como a vida que tinham. Não, não estou
dando força a esse comércio, apenas querendo dizer que o que elas
fazem é uma escolha, e que para
elas essa opção talvez seja menos
pior do que a vida que levavam.
Talvez nunca a gente vá saber
disso direito, pois quando chega a
imprensa elas já intuem o que devem dizer e dificilmente uma delas estará lendo o que estou escrevendo para, ao menos no seu íntimo, saber o que era pior. Mas já
cansei de ver depoimentos de
prostitutas que gostam do que fazem e que não pretendem deixar
a vida por nada deste mundo.
Liberdade também é para isso:
cair no bordel, se essa for a sua vocação. Mas não é só a gangue da
prostituição que é a culpada de
levar para a Europa as pobres
moças. Culpados são os governos,
que, por tratar tão mal a nossa juventude, faz com que seja mais
promissor um trabalho de prostituta em Madri do que catar caranguejo no mangue.
Você já teve que fazer a escolha
entre não ter um par de sapatos,
ver os irmãos comendo pirão ou ir
atrás de um outro destino, seja ele
qual for?
Nem você nem eu.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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