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SAÚDE
Pesquisa da USP de Ribeirão Preto mostra que moradores da periferia ganharam mais peso em dez anos do que a classe média
Obesidade aumenta entre os mais pobres
MAURÍCIO BARBOSA
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
A obesidade e os problemas de
saúde decorrentes dela aumentaram a lista de preocupações da
população de baixa renda da cidade de Ribeirão Preto (314 km de
São Paulo). Em um período de
dez anos, o número de moradores
da periferia que ganharam peso
acima do considerado ideal cresceu 212%.
A classe média também engordou no período, mas numa proporção bem menor: 16%. Os dados são de uma pesquisa inédita
realizada pela USP de Ribeirão
em 1991 e em 2001. Só agora os resultados da pesquisa e as causas
da obesidade estão sendo avaliados. "Estamos avaliando se houve
aumento na ingestão de alimentos, mas não há dúvidas de que os
hábitos alimentares errados e a
depressão estão entre as principais causas do aumento de peso",
disse o médico José Ernesto dos
Santos, coordenador clínico do
grupo de obesidade médica do
HC (Hospital das Clínicas).
Santos coordenou a pesquisa,
que foi aplicada em quatro bairros de Ribeirão Preto e foi financiada pela National Science Fundation, dos Estados Unidos.
A pesquisa envolveu 200 famílias em cada bairro, com pessoas
acima de 18 anos. É considerada
obesa a pessoa com IMC (Índice
de Massa Corpórea) entre 30 e 40
-para calculá-lo, é preciso dividir o peso do indivíduo pelo quadrado de sua altura.
A revista científica "Social
Science & Medicine", dos Estados
Unidos, publicou neste mês um
artigo com análise de parte da
pesquisa. A ingestão de bebidas
alcoólicas é o primeiro item avaliado e mostrou que tem forte influência na obesidade, pela alta
quantidade de calorias, em todas
as classes sociais.
O peso do fator psicológico ainda não foi analisado, mas quem
tem ou já teve problemas com excesso de peso garante que é um
dos fatores que mais influenciam.
A psicóloga Ana Maria Carvalho, da USP, disse que o fator psicológico influi em dois momentos
na obesidade. Primeiro, na formação dos hábitos alimentares
errados, de fácil aquisição, pela
falta de outras atividades.
Depois, quando a obesidade já
está instalada, a pessoa fica deprimida, seja por causa de uma roupa que não serve mais ou por discriminação, e muitas vezes engorda ainda mais. "O aspecto psicológico não tem endereço social,
atinge todas as classes."
A psicóloga lembra, no entanto,
que as classes média e alta têm
condições de procurar especialistas para perder peso.
Para Santos, o quadro de obesidade na população de baixa renda
só será revertido com programas
de reeducação alimentar, aliados
à prática de exercícios físicos.
A assessoria da Prefeitura de Ribeirão informou que o atendimento aos obesos de baixa renda
é feito "informalmente, em alguns
laboratórios de endocrinologia",
mas a administração tem intenção de implantar um laboratório
específico para esse tipo de atendimento na cidade.
A USP mantém um programa
de redução de peso para adolescentes, que está desativado neste
ano. Segundo a coordenadora,
Rosane Pilot Pessa Ribeiro, doutora em nutrição, é difícil atrair os
mais carentes, seja pela falta de interesse da família ou porque os
que começam não vão até o final
porque, muitas vezes, não têm dinheiro para o ônibus.
Outro item preocupante da pesquisa da USP é o que revela o aumento de pessoas com colesterol
alto, acima de 200, uma das conseqüências da obesidade.
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