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Professores mantêm greve e voltam a parar a Paulista
Categoria quer revogar decreto que muda política educacional e cobra aumento de 45%
Estado divulgou anteontem reajuste de até 12%; gestão Serra restringiu transferência de docentes e criou prova
para contratar temporários
Raimundo Paccó/Folha Imagem
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Professores da rede estadual fazem manifestação no centro de SP
CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Professores da rede estadual
paulista decidiram continuar a
greve iniciada na segunda-feira
passada e marcaram, para a
próxima sexta-feira, outra assembléia com passeata. Ontem,
o protesto da categoria durou
quatro horas e interditou trechos da avenida Paulista e da
rua da Consolação até a praça
da República, no centro.
A Apeoesp (sindicato dos
professores) quer a revogação
do decreto, assinado pelo governador José Serra (PSDB) no
mês passado, que limita as
transferências de profissionais
durante o ano letivo e institui
uma prova aos professores
temporários -que determinará preferências para a escolha
de turmas no início do ano.
O governo do Estado divulgou, anteontem, um reajuste
salarial para os professores de
até 12% -variando conforme o
cargo. O último aumento ocorreu há três anos e a inflação no
período foi de 13%. A entidade
quer um aumento de cerca de
45%, que elevaria o piso para
perto de R$ 2.000.
Durante a primeira semana
de greve, o governo afirmou
que apenas 2% das escolas haviam aderido à greve. A
Apeoesp diz que 70% dos professores estão parados.
Ontem também houve discordância em relação ao total
de manifestantes. Do caminhão de som, integrantes da
Apeoesp falavam em 70 mil
pessoas. Das ruas, a Polícia Militar calculava cerca de 8.000.
Como a passeata ocupou as
três faixas de descida da rua da
Consolação em toda a sua extensão -o que significa 15 mil
metros quadrados-, a reportagem calcula que havia, pelo menos, 15 mil pessoas. A rede estadual tem 247 mil professores.
"Todo mundo que pôde veio
para cá; quem não veio tem medo de retaliação", disse o professor de português Aparecido
da Silva, 50. "Como vamos formar as crianças se não conseguimos pagar nossas contas?"
Carnaval
A multidão era colorida por
bandeiras, tambores, um caixão com a inscrição "aqui jaz a
educação", bonecos do governador José Serra, apitos, cornetas e narizes de palhaço.
Um grupo de japoneses uniformizados, que disseram ser
da Marinha e estar em São Paulo com o príncipe do país,
achou que era algo parecido
com o Carnaval. Eles pararam
para fotografar e acabaram posando com os professores.
"Great party [ótima festa]", disse Shinsuke Yamaguchi, 28.
Também houve manifestações de motoqueiros buzinando, trabalhadores que acenavam dos prédios e até de
operários das obras do metrô
pelo caminho. O podólogo Luthero Lopes, 63, resolveu protestar: "Vão trabalhar. Vai cortar cana", gritava ele na av. Paulista. Os professores já começavam a responder quando um
policial pediu para ele parar.
Trânsito
Quem ficou preso no trânsito
também reclamou. "Acho que
eles têm o direito de se manifestar, mas não podem, para isso, tirar o direito de ir e vir dos
outros", afirmou o cobrador
Cláudio de Almeida, 42.
O ônibus em que ele trabalhava foi um dos 20 que ficaram
presos na Paulista, antes de o
trânsito de coletivos ser desviado pela rua Treze de Maio. Os
passageiros desceram a pé, ou
de metrô, até a Consolação.
As ruas do entorno da Paulista também foram afetadas.
Em nota, a Secretaria da
Educação informou que "lamenta que a Apeoesp insista
em uma proposta rechaçada
pela ampla maioria dos professores da rede estadual". Para o
órgão, "a continuação da greve,
mesmo com baixa adesão, atrapalha os estudantes".
O presidente da Apeoesp,
Carlos Ramiro, disse que a greve é democrática: "Votamos a
continuidade da greve e a maioria foi a favor".
Colaborou RICARDO SANGIOVANNI, da Reportagem Local
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