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Mesmo alertado, MEC dá nota errada a SP
Escolas municipais ficaram com nota mais baixa que a real no Ideb; ministério admite que dados de outras cidades podem estar errados
Problema ocorre em ano de eleição; Marta Suplicy (PT) é pré-candidata e uma das principais adversárias do prefeito Kassab (DEM)
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo tendo sido alertado
com antecedência do problema, o MEC (Ministério da Educação) divulgou ontem números errados sobre a rede escolar
da Prefeitura de São Paulo. As
escolas municipais acabaram
ficando com uma nota mais
baixa que a real no Ideb (Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica). O MEC admite que
outras cidades podem ser prejudicadas pela mesma razão.
O problema ocorre em pleno
ano de eleição municipal. Ontem, o ministro da Educação,
Fernando Haddad, esteve em
São Paulo e se reuniu com a
pré-candidata do PT à prefeitura, Marta Suplicy. Um dos principais adversários da petista é o
atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), que tem
planos de reeleição.
Não é a primeira vez que esse
tipo de problema, em ano eleitoral, envolve a maior cidade do
país.
Os números equivocados se
referem aos índices de aprovação dos alunos da rede municipal. Equivocadamente, o Inep
(instituto de pesquisas e avaliações do MEC) computou como
reprovados os que foram transferidos de escola, os que abandonaram os estudos e até os
que morreram no ano letivo.
O Ideb é um índice que aponta o desempenho de todos os
colégios públicos. Considera as
notas dos alunos em provas oficiais e o índice de aprovação
dos estudantes. O objetivo é
oferecer um detalhado raio-X
da educação nacional.
Pelo dados divulgados ontem
-errados-, São Paulo ficou no
12º e no 8º lugar, no ranking das
redes municipais das capitais,
nas séries iniciais (da primeira
à quarta série) e nas séries finais (da quinta à oitava). Pelos
cálculos da prefeitura, com os
índices corretos de aprovação,
a cidade subirá para o 9º e para
o 6º lugar, respectivamente.
Questionado pela Folha sobre a razão de os dados terem
sido divulgados mesmo com o
conhecimento de que estavam
errados, o presidente do Inep,
Reynaldo Fernandes, disse que
não poderia alterar a data de
divulgação dos números. "Os
dados já estavam prontos. Só se
eu atrasasse tudo. Não posso
tratar São Paulo diferente dos
outros municípios", disse ele.
O erro foi informado ao MEC
pelo próprio secretário municipal de Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, que
informalmente já havia obtido
os números contabilizados. O
ministério encontrou o erro na
terça-feira. Ainda assim, decidiu que não faria alterações.
O problema veio a público
ontem. Por causa disso, o presidente do Inep viajou a São Paulo para explicar pessoalmente
ao secretário o ocorrido. "Não
tenho motivo para desconfiar
de qualquer tipo de manipulação dos dados pelo Inep. Mas
divulgar dados errados é muito
ruim para a imagem de São
Paulo", afirma Schneider.
Fernandes afirmou que o dado errado não tem relação com
a eleição municipal. "Meu trabalho é despolitizar os números", disse o dirigente do Inep.
Schneider e Fernandes cogitaram a hipótese de conceder
uma entrevista coletiva juntos
ontem para explicar o problema, mas desistiram. Nenhum
dos dois se dispôs a assumir a
culpa pelos dados errados.
"Não tenho nenhuma informação de que os dados divulgados contenham incorreção por
parte do meu instituto", afirmou o ministro Haddad.
O MEC informou que, assim
que chegar aos números corretos de São Paulo e de outras cidades que também possam ter
sido prejudicadas, divulgará
uma errata. Ainda não há data.
O deputado Paulo Renato
Souza (PSDB-SP), ministro da
Educação do governo Fernando Henrique, criticou o Inep.
"É uma vergonha, uma irresponsabilidade. Se os dados estão errados, suspenda a divulgação, corrija os dados e os divulgue depois. Não se pode, por
causa da programação de divulgação, atropelar a seriedade
e o caráter científico do Ideb."
Colaboraram ROGÉRIO PAGNAN, da Reportagem Local, ANTONIO GOIS, da Sucursal do Rio,
e RANIER BRAGON, em São Paulo
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