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Garoto fica tetraplégico após erro em cirurgia de fimose e hérnia
Ravy Silva, que aos 5 anos passou por operação para retirada de hérnia umbilical e fimose, hoje, aos 8, alimenta-se por sonda e não movimenta os membros
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Aos cinco anos, Ravy Silva
corria pela casa, desenhava, andava de bicicleta e era um habilidoso projeto de craque de futebol, na descrição do pai,
Francisco de Assis. "Tinha uma
direita...!" Começaria as aulas
de natação no ano seguinte.
Hoje, aos oito e com 14 kg,
Ravy não anda, não fala, alimenta-se por uma sonda na
barriga e não movimenta os
membros do corpo, atrofiado.
Está tetraplégico e não vai à escola, desde uma malsucedida
cirurgia de fimose e hérnia umbilical, em 24 de janeiro de
2006, no hospital municipal infantil Ismélia da Silveira, em
Duque de Caxias (RJ).
Um problema na anestesia
provocou uma parada cardíaca
em Ravy. Como conseqüência
da falta de oxigenação no cérebro, ele ficou tetraplégico. O garoto passou quatro meses no
hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro.
A Justiça determinou que a
prefeitura da cidade -com um
dos dez maiores PIBs entre
municípios do Brasil- "forneça o tratamento especializado e
os meios necessários para sua
assistência -como remédios,
transporte ao local de tratamento e cadeira de rodas".
Segundo o pai, que parou de
trabalhar como vendedor desde o incidente, apenas três dos
mais de dez remédios que Ravy
usa diariamente são entregues,
ainda assim de forma "irregular". Como a prefeitura não realiza o transporte, Francisco de
Assis depende de carro emprestado para levar o filho aos
diversos tipos de tratamento,
em Caxias e no Rio.
Há quase cinco meses, a prefeitura emprestou uma cadeira
de rodas para adultos. Sem
equilíbrio, Ravy mal se sustenta na cadeira, grande demais.
Precisa de um modelo especial,
mais caro, com suportes para
os pés e os braços.
A família mora em Jardim
América, subúrbio do Rio, próximo ao limite com Caxias.
"Mutilaram uma criança.
Destruíram minha família",
disse Assis. "O juiz manda e não
dá em nada? Será que é porque
o menino não é rico? Ele tem
direito a tratamento; não está
fazendo tratamento."
Prefeitura
A Prefeitura de Caxias alega
cumprir as determinações da
Justiça e acusa Assis de ser um
"pai complicado".
Com mais dois filhos (Kalindy, 12, e Ramany, 10), Assis
passou a viver com um salário
mínimo, concedido após perícia do INSS, e passa o dia em
função do filho -a mãe é separada e raramente vê o filho, cuja
guarda ficou com o pai. Vira-se
com doações de igrejas.
Por falta de transporte e de
dinheiro para gasolina e pedágio, Ravy não pode fazer a
maioria das atividades do extenso tratamento para melhorar a sua qualidade de vida.
"Em Xerém, tem equoterapia, mas estou parado porque
não tenho veículo: são R$ 13,60
só de pedágio, mais o combustível. A prefeitura nega veículo."
Enquanto a reportagem conversava com o pai, Ravy observa. Por vezes chora e geme alto.
"Acabou a voz. O som, para eu
decifrar o que dói nele é pela
experiência", explica Assis.
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