|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RODEIOS
Regulamentação da atividade retoma a polêmica, alimentada por estudo que indica que bois sentem dores quando amarrados
Maus-tratos a animais voltam à discussão
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
A regulamentação dos rodeios
no Brasil foi bastante celebrada,
afinal normatiza uma atividade
que gera empregos, atrai, por ano,
pelo menos 36 milhões de pessoas
e movimenta, só na cidade de
Barretos (sede da maior festa de
peão do país), R$ 30 milhões. Mas
a lei do deputado Jair Meneguelli
(PT-SP), sancionada quarta-feira
passada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, acabou
também dando novo fôlego à polêmica dos maus-tratos aos animais que participam dos eventos.
Isso porque autoriza o uso do
sedém (corda que é amarrada na
virilha de bois e cavalos para fazê-los saltar), que, segundo associações de proteção aos animais e alguns veterinários, trazem danos à
saúde dos bichos, mas, na opinião
de organizadores, amantes dos
rodeios e outros especialistas, são
inofensivos se bem utilizados.
A mais nova munição dessa disputa é um estudo científico em
que cinco pesquisadores das áreas
de veterinária e zoologia da USP
(Universidade de São Paulo),
Unesp (Universidade Estadual de
São Paulo) e Universidade Estadual de Londrina (PR) procuram
provar, por meio dos sinais fisiológicos e do comportamento dos
animais em rodeios, que eles sentem, sim, dor e desconforto ao
usar o sedém, mesmo quando tais
sensações não vêm acompanhadas por ferimentos visíveis.
A principal evidência de dor citada é a constatação fotográfica da
dilatação das pupilas dos olhos
dos animais de rodeios, mesmo
estando eles num ambiente bastante iluminado -o que deveria
levar à constrição das pupilas.
Outro indício de que o sedém
causaria dor é a forma de o animal
de rodeio corcovear ao ter o instrumento amarrado ao seu corpo.
O que torna o show mais interessante seria, na verdade, uma tentativa de o animal se livrar do instrumento que lhe causa a dor.
Capitaneados por Irvênia Luiza
de Santis Prada, titular emérita de
neuroanatomia animal e professora da pós-graduação da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnica da USP, os pesquisadores apontam a existência, na virilha dos animais, de estruturas
nervosas específicas para captação de estímulos que provocam a
dor (os algirreceptores). Como a
pele nessa área é mais fina, a percepção seria ainda mais intensa.
Além disso, assim como no ser
humano, a virilha dos bichos é
particularmente sensível por se
relacionar à presença ou vizinhança dos órgãos genitais, fundamentais para a sobrevivência
da espécie e a auto-preservação.
O trabalho "Bases Metodológicas e Neurofuncionais da Avaliação de Ocorrência de Dor em Animais" está no próximo número
da revista "Educação Continuada", do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo, a
ser distribuída até o mês que vem.
Inofensivo
Ele é contrário a uma outra pesquisa, publicada em 2000, na mesma "Educação Continuada", que
relata as experiências de cinco
pesquisadores da Unesp de Jaboticabal, sob coordenação do professor de patologia veterinária
Orivaldo Tenório Vasconcelos, e
defende ser o sedém inofensivo.
Feito a pedido e às expensas do
grupo "Os Independentes", que
organiza a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, o estudo, que
custou US$ 40 mil (hoje cerca de
R$ 114,8 mil), chegou à conclusão
de que o instrumento não afeta a
produção de espermatozóides.
E, para sustentar que os animais
não sentem dor, descreve que,
mesmo amarrados pelo sedém, os
bois comeram normalmente e
tentaram copular, o que não deveria ocorrer. A intensidade da
amarração, entretanto, pode ser
variável. Um sedém preso com
muita força pode até imobilizar
um animal. Se estiver frouxo, por
outro lado, não causa mal.
Vasconcelos tem uma visão
bem diferente em relação às causas dos coices de cavalos e bois
nas arenas: cócegas. "Na minha
maneira de avaliar, a região da virilha desse animais corresponde à
das costelas do homem, por isso o
sedém causa cócegas."
Sócio honorário de "Os Independentes" há quase dez anos e
frequentador assíduo de rodeios,
o professor afirma, entretanto,
que a lei sancionada por FHC ainda não é perfeita.
Ele questiona a legalização do
uso de esporas, mesmo sem pontas, e das provas de laço, para as
quais não tem, ainda, uma defesa.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Atividade tem raiz mexicana Índice
|