|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
País envelhece com mais rapidez do que se previa
Taxa de natalidade atingiu 1,8 filho por mulher em 2006, nível esperado para 2043
Com cada vez mais velhos e menos crianças, políticas públicas terão que ser revistas para se adaptar à realidade da população
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O envelhecimento populacional brasileiro chegará antes
do que se estimava. A divulgação, no início deste mês, da
PNDS (Pesquisa Nacional de
Demografia e Saúde) mostrou
que o país chegou, em 2006, a
uma taxa de fecundidade de 1,8
filho por mulher. O IBGE, em
sua estimativa oficial, feita em
2004, previa que esse patamar
só seria atingido em 2043.
Nem mesmo projeções da
ONU menos conservadoras indicavam uma taxa abaixo de 2,0
antes de 2010. Diante dessa e
de outras pesquisas que registraram fecundidade menor, o
IBGE revisará suas estimativas.
Mais do que uma simples revisão de um cálculo estatístico,
a constatação de que o Brasil
terá cada vez mais idosos e menos crianças antes do previsto
tem impacto em cálculos de
aposentadoria e traz desafios
para políticas públicas, que terão que se adaptar a uma estrutura populacional envelhecida.
A demógrafa Elza Berquó, do
Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento e coordenadora
da PNDS, lembra que as Pnads
(Pesquisas Nacionais por
Amostra de Domicílios, feitas
anualmente pelo IBGE) já indicavam que a fecundidade caía
num ritmo mais acelerado do
que o estimado pelo instituto.
Em 2004, a taxa chegou ao
nível de 2,1 filhos por mulher,
patamar que indica tendência
de reposição populacional e
que, pelas estimativas do IBGE,
só seria atingido em 2014.
"O movimento de transição
da fecundidade se iniciou há 40
anos e os dados recentes são
coerentes com a série histórica.
Não sei por que o IBGE continuou trabalhando com essa estimativa [de queda menor].
Não faço projeções, mas, a julgar por essa tendência, acho
que a fecundidade continuará
caindo", diz Berquó.
Fernando Albuquerque, que
participou da elaboração das
estimativas do IBGE, diz que o
instituto projetou queda menor porque o Censo de 2000 e a
Pnad de 2001 não sugeriam
queda acentuada. "As Pnads de
2002 a 2006, no entanto, registraram um declínio mais rápido. Por isso, já estamos revendo
a projeção para incorporar os
resultados recentes."
O demógrafo José Eustáquio
Alves, da Escola Nacional de
Ciências Estatísticas do IBGE,
diz que a queda mais rápida da
fecundidade indica que a população começará a diminuir antes. Pela estimativa do IBGE,
isso aconteceria somente a partir de 2062. A projeção da ONU
com taxas mais próximas das
verificadas recentemente, no
entanto, aponta que isso deve
acontecer já na década de 2030.
O envelhecimento mais rápido que o estimado traz desafios
ao país. Um deles é aumentar os
investimentos em saúde para
atender melhor aos idosos.
Previdência
Outro diz respeito ao equilíbrio das contas da Previdência.
Anualmente, quando o IBGE
divulga aumento da expectativa de vida, isso altera o fator
previdenciário, índice que acaba aumentando o tempo que o
trabalhador precisa contribuir
com o INSS para se aposentar
com o mesmo benefício.
Carlos Guerra, vice-presidente da Federação Nacional
de Previdência Privada, diz que
os impactos também serão sentidos no setor particular, que
poderá absorver mais insatisfeitos com os resultados da Previdência oficial, mas que, igualmente, precisará se adaptar.
"O equilíbrio ideal é ter cinco
contribuintes para cada inativo, mas já estamos nos aproximando da situação de um para
um", diz Guerra. Segundo ele,
planos que garantem renda vitalícia mensal perderão espaço
para outros com opção de fazer
um resgate maior do benefício.
Apesar dos desafios que a
queda mais intensa da fecundidade trará, Eustáquio Alves
alerta que não se deve trocar o
mito da "explosão populacional" pelo da "implosão populacional". "Não há por que ficar
apavorado com a redução da
população. Ela pode ser boa ou
ruim dependendo de como a
sociedade e as políticas públicas respondem a isso."
Texto Anterior: Há 50 Anos Próximo Texto: Frase Índice
|