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FERNANDO TEIXEIRA DE ANDRADE (1946-2008)
Um professor de letras até o último dia
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Era sexta-feira e o professor de literatura Fernando
Teixeira chegou de manhã ao
curso pré-vestibular Objetivo da av. Paulista, como fazia
há cerca de 30 anos. De bengala na mão, para espanto
dos alunos, deu aula tarde e
noite adentro, sobre escritores, períodos, movimentos.
"Não queria parar de falar",
diz a colega. Só após 18 horas
em classe aceitou ir para casa. Morreu no dia seguinte.
"Ateu, graças a Deus", como sempre dizia, não acreditava em presságio; nem os
alunos quiseram crer que FT
dera sua última aula. Nas comunidades de "discípulos"
do site Orkut, a notícia foi logo descartada. "Impossível,
não o nosso querido FT."
Não o mestre que há três
décadas dava aula em cursinho, desde o tempo de Ribeirão Preto; onde nasceu, filho
de um advogado e uma professora. Formado em direito,
nunca advogou. "Em literatura era autodidata", diz a filha. "Em casa não tem parede, nem decoração, só livro."
"Boa noite seus mal educados", dizia, a voz empostada,
sempre que entrava na sala,
com sua barba, bigode e sarcasmo. E começava a verter
centenas de referências (datas, nomes, períodos). "A aula sobre um livro podia levar
sete horas", diz uma colega.
"Os versos de "Os Lusíadas",
sabia quase todos de cor."
Tinha três filhos, era casado e "completamente apaixonado" pela aula. Há quatro
anos tinha câncer e "dores
terríveis." Mas foi professor
até aquela sexta. Morreu sábado, dia cinco, aos 61.
obituario@folhasp.com.br
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