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Policial paulista precisa de salário melhor, diz ouvidor
Para Antônio Funari Filho, baixa remuneração estimula o "bico" e faz SP perder profissionais para outros Estados
Levantamento da Folha revela que delegado paulista tem menor salário do país em início de carreira e, na média, perde para piso de 12 Estados
LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A polícia paulista precisa de
melhores salários para elevar o
nível de seus policiais e evitar a
perda de bons profissionais para outros Estados e outras carreiras. Essa é a opinião do ouvidor da polícia de São Paulo, Antônio Funari Filho, e de especialistas em segurança pública
e direito ouvidos pela Folha.
Ontem, um levantamento da
Folha revelou que São Paulo
paga o menor salário do país
para delegados da Polícia Civil
em início de carreira. Um profissional de cidade pequena
no interior paulista recebe
R$ 3.708,18. O valor é muito inferior aos praticados em Estados como o Acre (R$ 6.196,40)
ou o Amazonas (R$ 6.100).
O secretário de Gestão Pública, Sidney Beraldo, disse ontem
por meio de nota que apenas 15
dos 3.500 delegados recebem o
piso de R$ 3.708,18.
O levantamento mostrou,
porém, que o salário médio do
delegado paulista, de R$
7.085,85, é menor que o piso
pago a delegados em 12 Estados
-como Piauí (R$ 7.141,50) e
Roraima (R$ 8.500).
"O policial precisa de melhores salários. É uma questão de
segurança pública. Ganhar mal
cria instabilidade financeira e
isso atinge o emocional dos policiais", disse Funari Filho.
O ouvidor é um representante da sociedade civil que atua
como uma espécie de ombudsman da segurança pública, recebendo denúncias de irregularidades praticadas pela polícia
e as repassando aos órgãos corregedores. O nome do ouvidor é
escolhido pelo governador a
partir de uma lista tríplice elaborada pelo Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), no
qual 80% dos membros são da
sociedade civil.
Segundo Funari Filho, a polícia paulista é a mais bem preparada do país, mas a falta de atrativos financeiros da carreira já
está fazendo com que São Paulo
perca profissionais para polícias de outros Estados.
O ouvidor disse ainda que fazia idéia de que o piso salarial
dos delegados paulistas estava
entre os mais baixos do país,
mas não sabia que era o último
do ranking. Ele afirmou ainda
que a profissão de policial exige
dedicação exclusiva, mas as
baixas remunerações acabam
estimulando policiais a fazerem serviços de segurança particular, os chamados "bicos".
Problema estrutural
Para o juiz aposentado e ex-secretário nacional Antidrogas
Wálter Maierovitch, a questão
da remuneração está relacionada a um problema estrutural da
polícia brasileira.
Segundo ele, ocorrem duas
fases de investigação de um crime, uma feita pela polícia e outra pela Promotoria e o Poder
Judiciário. Policiais civis fazem
um trabalho semelhante ao de
promotores e juízes -correndo
maiores riscos- e ganham salários mais baixos que os deles,
conforme Maierovitch.
De acordo com o advogado
Theodomiro Dias Neto, professor da FGV (Fundação Getúlio
Vargas) e especialista em segurança pública, bons salários
ajudam a melhorar a qualificação dos policiais e, em conseqüência, a diminuir a corrupção na polícia. "Melhorar os salários é uma medida entre muitas outras [para resolver o problema]", disse o professor.
Segundo ele, a diferença dos
salários de São Paulo em relação a outros Estados é uma distorção histórica que dificilmente pode ser solucionada
com um só ato.
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