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VERÃO
Enquanto locais populares são limpos, os pouco frequentados ficam sujos; resíduos prejudicam animais
Lixo invade praias no litoral norte de SP
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DAS REGIONAIS, EM UBATUBA
Após horas de caminhada, trilhas e mato fechado em busca das
praias isoladas, achar montes de
lixo é tão comum no litoral norte
de São Paulo que a imagem paradisíaca do local é derrubada.
A Folha percorreu seis praias de
Ubatuba (224 km de SP) e ouviu
turistas e pessoas que atuam no
ecoturismo, além de ONGs e especialistas. Não há controvérsias:
enquanto as praias mais conhecidas são limpas pelo poder público, moradores e comerciantes, as
isoladas permanecem sujas.
Lançado por barcos ou carregado da própria costa, o lixo chega e
fica lá. Em uma das praias, a partir
da Enseada (a 5 km do centro de
Ubatuba), a água limpa contrasta
com a areia tomada por plástico,
vidro e latas. Em alguns pontos,
não há nem onde sentar.
O mesmo ocorre nas praias Brava e Sete Fontes, no Parque Estadual da Serra do Mar. A situação é
semelhante nas praias de Puruba,
da Fazenda e Ubatumirim.
Não há dados sobre o lixo no
mar nas prefeituras nem nos órgãos do Estado e da União, mas é
comum se deparar com objetos
amontoados na areia. ""A Ponta
Aguda [em Ubatuba] estava puro
lixo. Foi um choque, fiquei decepcionada", diz a médica Maria de
Lourdes Mendes Rodstein, 52.
""Acaba estragando os passeios", diz Marcelo Martino, 26,
dono de uma empresa de São
Paulo especializada em trekking
em praias isoladas.
A Folha procurou o Ministério
do Meio Ambiente durante um
mês para saber das ações contra o
lixo no mar, mas não obteve resposta. Isso porque, segundo especialistas, trata-se de um problema
nacional, de difícil solução só com
ações locais, em razão do fácil
deslocamento do lixo nos mares.
Para o secretário de Turismo de
Ubatuba, Sérgio Carvalho, há um
descompasso entre o boom do
ecoturismo e a realidade que o visitante encontra. ""As comunidades [moradores e poder locais]
não estão preparadas", diz.
No Dia Mundial de Limpeza de
Praias, em setembro, foram recolhidas 11 toneladas de lixo em 102
praias de 16 cidades paulistas.
Segundo a oceanógrafa ligada à
ONG Instituto Terra e Mar, Shirley Pacheco de Souza, 40, no Brasil não existe fiscalização do despejo de lixo no mar.
Além do impacto visual, o lixo
no mar é agressivo à fauna marinha. ""O plástico ingerido provoca
a morte lenta e agônica de golfinhos e tartarugas. Na areia, o lixo
afeta o modo de vida das algas e
dos animais, incluindo aves e peixes", afirma Valéria Flora Hadel,
47, docente do Cebimar (Centro
de Biologia Marinha), base da
USP (Universidade de São Paulo)
em São Sebastião.
Segundo a gerente de águas litorâneas da Cetesb (agência ambiental paulista), Claudia Lamparelli, o litoral norte paga o preço
por estar entre Rio e São Paulo, as
duas maiores metrópoles do país.
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