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Modelo iniciante tenta decolar no mundo da moda na SPFW
A maratona de uma jovem gaúcha que, aos 16 anos, batalha para ser reconhecida
SILVIANE NENO
DA REVISTA DA FOLHA
No dicionário da moda, "new
face" é modelo iniciante, a caloura de uma carreira difícil.
São meninas entre 14 e 18 anos
que estão começando a vida
profissional, recém-saídas de
cursos ou descobertas por
olheiros de agências. Empurradas por mães confiantes na beleza da cria, todas querem ser
Gisele Bündchen.
A reportagem acompanhou o
início da maratona de uma das
apostas da Ford Models nessa
temporada de moda. Paula Zago, 16, gaúcha de sotaque carregado, começou a semana com
16 desfiles fechados.
Com a expectativa de ir além
das duas dezenas de desfiles
por sete dias em SP, Paula acordou cedo em 17 de junho, quando foi dada a largada na maratona desta 25ª edição da São
Paulo Fashion Week.
"Estou até com a mão gelada", diz, mostrando os dedos
frios logo pela manhã.
Com fome, Paula correu para
a geladeira e preparou seu café
da manhã: uma fatia de pão integral, manteiga, uma maçã, iogurte de morango e granola. Iogurte light, como convém a
uma modelo de passarela? Não:
"O mais barato mesmo".
Tem início a dura jornada de
trabalho da adolescente, que
sai de casa às 11h30. Carrega
uma maxibolsa preta, sem grife. "De brechó." Dentro há um
suco de caixinha, chicletes,
quatro revistas de palavras cruzadas, agenda, carteira de documentos, um sapato de salto alto
e a carteira de trabalho.
O corpo é quase de criança.
Os 52 quilos parecem desaparecer distribuídos em 1,75 m de
altura. O rosto delicado se
transforma ao primeiro flash.
No backstage da Osklen, Paula vai direto para a mesa reservada à fome da equipe. De pé,
ela devora um copinho de salada e penne com vegetais.
Depois do almoço, hora da
maquiagem. O cabelo longo é
preso com creme num rabo de
cavalo bem "natural".
"Tomara que o sapato não seja de salto e que caiba no meu
pé." Paula calça 36, número talvez pequeno demais para um
pé de modelo. Às 14h50, a camareira aparece para ajudar a
vesti-la e... O sapato era maior
que o pé. "Será que não trocaram?" O jeito foi apertar no tornozelo as fitas da sandália.
Quarenta minutos depois,
Paula entra na fila com as outras colegas. São 15h35, quando
o desfile da Osklen, previsto para as 15h, começa. Em 15 minutos, volta ao camarim com a
missão cumprida. A fila se forma novamente às 16h40. A sandália começa a machucar o pé.
Ela reclama, mas segue em
frente. Entra correndo e recua,
quando avista trufas de chocolate -come uma, duas...
Meia hora depois, Paula já está no camarim da Ellus. Novo
"look", outra maquiagem, outro cabelo. São 18h40. O pé continua sofrendo: "A primeira
sandália cortou o meu dedão e
as outras vão tirando lascas".
São 20h30 quando Paula deixa o prédio da Bienal. O dia de
trabalho lhe rendeu R$ 1.440
-cachê de R$ 480 por desfile.
Paula vai direto para casa.
Cansada, Paula? "Nada, faria
mais três desfiles hoje, se tivesse." O pé repousa feliz dentro
do velho All Star. No dia seguinte, a primeira prova de roupa
estava agendada para as 9h.
Era só o começo.
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