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Delegacia é depredada após morte de menina
Segundo testemunha, tiro foi disparado por um PM; revoltados, moradores queimaram delegacia, posto policial e a Câmara Municipal
Os nove presos que estavam na delegacia de Igarapé do Meio foram soltos; policial suspeito de ter atirado na menina de nove anos fugiu
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
Moradores de uma cidade do
interior do Maranhão, revoltados com a morte de uma menina de nove anos -atingida por
um tiro na cabeça-, depredaram a delegacia da cidade, o
posto da Polícia Militar e a Câmara Municipal. Segundo testemunhas, a garota foi atingida
por tiros dados por um PM.
O crime ocorreu na tarde de
anteontem na pequena cidade
de Igarapé do Meio, a cerca de
250 km de São Luís. A delegacia
foi o alvo principal da população: foi incendiada e teve móveis e vidraças quebrados. Os
nove presos que estavam no local foram soltos.
O posto da PM, que estava fechado, foi arrombado e teve os
móveis retirados e queimados.
A Câmara Municipal, que fica
ao lado da delegacia, também
foi depredada -parte do telhado ficou destruída.
Segundo a Polícia Civil em
Santa Inês (254 km de São
Luís), que abrange a delegacia
de Igarapé do Meio, dois PMs e
um carcereiro estavam na delegacia no momento do ataque.
Eles não tiveram tempo para
pedir reforços e fugiram em um
carro, informou a polícia.
Morte da criança
Uma testemunha dos disparos contra a criança relatou à
Polícia Civil que um policial
militar à paisana estava bebendo em um bar, em um povoado
de Igarapé do Meio, quando
houve uma briga entre duas
pessoas. Uma delas esfaqueou a
outra e fugiu. O PM perseguiu o
agressor, que fugiu atravessando um rio.
A testemunha disse que o policial militar fez vários disparos
na direção do suspeito -e que
um dos tiros acabou atingindo
a menina.
O PM apontado como autor
dos disparos estava desaparecido até as 23h30.
A garota, identificada como
Cristiane, chegou a ser socorrida, mas chegou morta ao hospital municipal de Igarapé do
Meio. Segundo o hospital, ela
tinha um ferimento causado
por arma de fogo na cabeça. A
mãe da vítima, que está grávida,
entrou em choque e teve que
ser atendida no local.
A reportagem não conseguiu
localizar familiares da menina
ontem.
O comando da PM do Maranhão informou que foi instaurado um IPM (Inquérito Policial Militar) e que dois oficiais
foram designados para apurar o
que ocorreu.
Segundo a PM, o comandante da corporação só irá se manifestar sobre o caso após os oficiais apresentarem um relato
da situação, o que só deverá
ocorrer a partir de amanhã.
A Polícia Civil disse que circula na cidade a informação de
que a PM foi acionada após
uma tentativa de assalto ao bar
e que o policial chegou atirando, o que não foi confirmado
pela testemunha.
O pai da menina, José Raimundo Silva, disse à TV Globo
que quer justiça no caso. "É
uma coisa que perde um pedaço do coração da gente."
De acordo com o agente Sandro Vasconcellos, chefe-de-gabinete da Delegacia Regional
de Santa Inês, será aberto inquérito para apurar a morte da
menina e a depredação dos órgãos públicos. Ele esteve em
Igarapé do Meio ontem para investigar o caso.
Segundo Vasconcellos, dois
dos nove presos libertados no
ataque se apresentaram ontem
à polícia. A cidade, com cerca de
10 mil habitantes, não tem Corpo de Bombeiros -o fogo foi
apagado com a ajuda de um carro-pipa da prefeitura.
Até o início da noite de ontem, a Secretaria da Segurança
do Maranhão não havia se manifestado sobre o episódio.
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