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HISTÓRIA
Interdição do pavilhão 9 decepciona curiosos
De condenado a empresário, Casa de Detenção atrai 4.130 visitantes
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresários, aposentados,
condenados, crianças com os pais
e meninos de rua. Misturavam-se
todos, ontem de manhã, na fila de
espera para a abertura dos portões da Casa de Detenção -o
maior presídio do país que, desativado há uma semana, está parcialmente aberto à visitação.
Pelos dois pavilhões aos quais o
acesso está liberado -o 2 e o 7-
passaram ontem -segundo dia
de visita- 4.130 pessoas, muitas
delas vindas de outros Estados.
Foi esse o caso das universitárias catarinenses Juliana Coelho,
20, e Luciana Santos, 20. Estudantes de enfermagem, elas fazem estágio no Presídio Masculino de
Florianópolis e tentavam saber
como os presos eram atendidos
na Detenção. Mas o pavilhão-hospital -o 4- não será aberto. O
que viram, não aprovaram.
"Achei ruim. A farmácia em
Florianópolis é branquinha, limpinha, arrumadinha. E o atendimento lá é feito pela gente, não
por presos", disse Juliana ao ver a
farmácia do pavilhão 2, um lugar
escuro, pequeno, frio e pichado.
No pavilhão 2, onde viviam os
presos que trabalhavam, não é
dado acesso às celas. Nele, circulando apenas pelo térreo, o visitante poderá ver uma exposição
de apetrechos achados com os
presos, o templo da Assembléia
de Deus e casa de umbanda, além
de diversas pinturas. Muitas delas, porém, não são de autoria dos
presos -foram feitas pela equipe
do filme "Carandiru", inédito.
Na área de sol do pavilhão 2 está
a exposição montada com 111
portas para lembrar o massacre
no pavilhão 9. O pavilhão 9, porém, está fechado -será destruído junto com o 6 e o 8 e, diz o governo, já está sendo preparado
para isso. A interdição do palco
do massacre causou decepção.
"Vim só para ver o pavilhão 9. Deve ter alguma coisa errada", disse
o empresário Lourival Pereira, 51.
O outro pavilhão parcialmente
aberto à visitação é o 7, no qual se
pode ver as celas com o frequente
trinômio: mulheres nuas, símbolos de times de futebol e escritos
religiosos. Pequenas, com banheiros sem divisória e frias, as
celas despertavam diferentes reações. "Isso é o retrato da nossa sociedade, que transforma homens
em bichos", disse o comerciante
José Rocha, 64, de Santo André.
"Vim porque aqui nunca fiquei
preso. Mas cadeia é sempre
igual", disse José, 30, que ficou
dois anos preso em Guarulhos
por tráfico e está em liberdade
condicional.
Casa de Detenção - av. Cruzeiro do Sul, 2.630, próxima ao metrô Carandiru, em São Paulo. Visitas: de ter. a dom., das 10h às 16h
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