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SAÚDE
Estudo feito pela USP de Ribeirão Preto com 450 gestantes mostra que 22,1% ingeriram mais de 28 g de álcool
Um quinto das grávidas bebe além do limite
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A mulher que deseja ter um filho deve abster-se de ingerir bebidas alcoólicas antes mesmo da gravidez. Especialistas dizem que não há uma dose-limite segura e
que a ingestão de 28 gramas de álcool (o equivalente a duas latinhas
de cerveja), mesmo que ocasional, já pode ser prejudicial ao feto,
especialmente nas primeiras semanas de gravidez.
O consumo de álcool entre as
gestantes é mais frequente do que
se imagina. Nos EUA, estima-se
que anualmente 65% dos fetos sejam expostos, em menor ou
maior grau, ao álcool. No Brasil,
não há estimativa sobre isso.
Mas uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP
de Ribeirão Preto (SP) mostra que
a situação pode ser bem parecida.
O estudo feito com um grupo de
450 mulheres no último trimestre
da gestação revelou que uma em
cada cinco (22,1%) havia consumido álcool acima do limite seguro (mais de 28 gramas).
Um número bem maior, 48%
das pesquisadas, relatou algum
consumo de álcool durante a gestação. Desse total, 9,1% das grávidas eram dependentes de bebida
ou a consumiam em excesso.
O álcool ingerido pela gestante
atravessa a placenta e faz com que
o feto receba as mesmas concentrações alcoólicas que a mãe. Porém a exposição fetal é maior devido aos processos de metabolização e eliminação serem mais lentos, fazendo com que o líquido
amniótico permaneça impregnado de álcool. Como é imaturo, o
fígado do feto produz menos enzimas que decompõem o álcool.
"Se na mãe a metabolização do
álcool ocorre em 15 minutos, no
feto demora mais de duas horas",
afirma o clínico-geral Maurício
Gattaz, do Hospital das Clínicas
de São Paulo.
A pesquisa, feita no ano passado
como tese de mestrado do enfermeiro Carlos Eduardo Fabbri,
avaliou gestantes carentes acompanhadas por uma maternidade
filantrópica de Ribeirão Preto.
Segundo Fabbri, o trabalho
mostrou que médicos e enfermeiros têm dificuldades em diagnosticar o consumo de álcool entre as
gestantes. Prova disso é que foram encontrados apenas 2% de
registros relativos a grávidas que
consumiam álcool durante a gestação nos prontuários médicos
das mulheres pesquisadas.
Para o ginecologista Rui Ferriani, 45, professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto, essa discrepância dos números é um bom argumento para
propor mudanças na forma como
os médicos abordam essas questões durante o pré-natal.
Ele afirma que as perguntas são
genéricas e, geralmente, não se
valoriza o "consumo social" do álcool. "Pelo que vimos, o consumo
pode não estar sendo tão "social"
assim", afirma.
A quantidade de álcool consumida pela mãe não é o único fator que determina o efeito dessa exposição na criança.
A tolerância individual da gestante e do bebê também tem um papel importante e, por isso, não é possível estipular qual a quantidade que a mãe pode beber sem
provocar danos ao bebê.
Mas não pode nem uma tacinha de vinho durante um jantar entre amigos? "Não", responde o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, 45, professor de psiquiatria da Unifesp e presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Drogas).
"O organismo de cada pessoa reage de maneira diferente ao álcool. Como não sabemos qual é a quantidade que causa esse ou aquele problema no feto, as grávidas devem se abster totalmente de bebida alcoólica", diz Laranjeira.
Síndrome
As sequelas causadas no bebê vão depender de diversos fatores, como a duração do tempo em que a mãe bebeu, os seus hábitos de bebida, a quantidade de álcool absorvida e a forma como o seu metabolismo elimina o álcool.
Também é importante a história genética da mãe e o comportamento em relação ao álcool antes de ficar grávida. Filhos de mulheres com antecedentes familiares
de alcoolismo e uma história pessoal de excessos correm mais riscos de desenvolver a síndrome do alcoolismo fetal (SAF), um mal que afeta, a cada ano,12 mil bebês, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
As crianças vítimas dessa doença podem ter lesões cerebrais e malformações físicas e orgânicas, que afetam olhos, boca, rins, coração e órgãos genitais, entre outros, assim como problemas de aprendizado e desenvolvimento.
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