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RELIGIÃO
Idealizadores atribuem à intervenção divina a facilidade que encontraram para unir as trilhas do caminho brasileiro
Roteiro já começa cercado de misticismo
DO ENVIADO ESPECIAL
Assim como costuma ocorrer
no Caminho de Santiago de Compostela, sua versão brasileira já
começa envolta em misticismo.
Muitos dos peregrinos que percorrem a pé o trajeto entre a França e a Espanha voltam aos seus
países de origem contando sobre
algum fenômeno que presenciaram ou viveram. Com os primeiros grupos a percorrer trechos do
Caminho da Fé ocorreu o mesmo.
""Os milagres começaram já na
fase inicial, na materialização do
projeto. Depois de traçarmos o
caminho pelo mapa, achávamos
que enfrentaríamos dificuldades
nas paróquias e nas prefeituras.
Mas não. Como se Nossa Senhora
estivesse nos iluminando, em todos os lugares que fomos as trilhas já estavam prontas. Só faltava
alguém para uni-las", afirma
Aparecida de Lourdes Dezena Cabrelon, presidente da Scorp (Sociedade Comunitária Renovação
e Progresso), uma ONG de Águas
da Prata que aderiu ao projeto.
Ela conta que, num único dia,
chegou a percorrer com Almiro
Grings -idealizador da rota-
sete prefeituras sem agendar nenhuma das audiências.
""Fomos na ponta dos pés, com
medo de os prefeitos rejeitarem,
mas, além de sermos atendidos
por todos prontamente, éramos
recebidos com tapete vermelho.
Não foi difícil encontrar nenhum
prefeito. Senti que tinha alguma
coisa a mais, vinda lá de cima. Os
prefeitos forneciam a rota das trilhas na mesma hora. A sensação
era de que já estava tudo traçado."
Segundo Grings, o caminho foi
se desenhando sozinho, entre trilhas de romaria já existentes e outras de trekking. ""O que traçamos
a olho, no mapa já existia. Todos
os proprietários de fazendas do
trajeto concordaram em abrir
suas cercas sem problema."
Grings conta que, ao chegar a
Consolação (MG), uma cidade
com 1.699 habitantes -menos
povoada que o menor dos municípios paulistas, que é Águas de
São Pedro, com 1.883 habitantes-, ele e Cabrelon foram chamados de anjos pelos representantes da administração local.
""Disseram que tínhamos caído
do céu, pois a cidade não encontrava uma forma de se desenvolver, apesar de sua riqueza natural", conta o fiscal aposentado.
Outra revelação veio de um peregrino que acompanhou o grupo
de estréia do percurso em Águas
da Prata. Depois de ficar sabendo
durante a madrugada que poucas
horas depois haveria uma caminhada, ele decidiu participar. E ficou empolgado com o projeto,
inicialmente traçado apenas entre
Águas da Prata e Aparecida.
Na noite seguinte, veio a ""revelação". O peregrino teve a visão de
um padre se encontrando com
Nossa Senhora Aparecida. Chegou à conclusão, depois, que se
tratava do padre Donizetti Tavares de Lima, indicando o início do
caminho em Tambaú, outro tradicional centro de romaria do interior paulista.
""Após esse fato, aprovamos a
extensão do caminho até Tambaú
numa segunda etapa. Será a consolidação do eixo religioso. O projeto prevê a possibilidade de outras ampliações do caminho futuramente", afirma Grings.
A oficialização do segundo trecho deve ocorrer em 16 de junho,
dia da festa anual em homenagem
ao padre Donizetti, que morreu
nessa data em 1961.
Outros projetos
Outros dois projetos de trilhas
de peregrinação apoiados pela
igreja, mas que não tiveram tanto
sucesso por falta de um apelo
mais forte como o do ""eixo religioso" ligando Tambaú a Aparecida, podem se tornar ramificações do Caminho da Fé, como
ocorre na Espanha, onde há três
rotas opcionais que levam a Santiago de Compostela.
""Teremos esse eixo como o
principal, mas nada impede que
surjam novas ramificações e que
outros caminhos também venham ao encontro do nosso, desembocando nos dois centros de
romaria", afirma o aposentado
Clóvis Tavares de Lima, 55, que
integra a comissão organizadora
do Caminho da Fé.
Um dos projetos refaz o itinerário de 105 km que era percorrido
pelo padre Anchieta no Espírito
Santo, entre a ilha de Vitória e a cidade de Reritiba (atual Anchieta).
Esporadicamente são formados
grupos, geralmente por ocasião
do feriado de Corpus Christi, para
percorrer o trajeto a pé, a cavalo,
de bicicleta ou até de caiaque.
A outra ramificação seria a trilha que vai de Santana do Parnaíba a Águas de São Pedro, batizada
de Caminho do Sol, com 209 km.
(MAÉRCIO SANTAMARINA)
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