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SAÚDE
Embranquecimento não está associado à queda; evidências mostram que a velocidade do processo varia conforme a raça
Cabelos brancos nascem mais fortes
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Cabelos brancos não sofrem
mudanças em sua estrutura ao
perderem a cor. Não são mais fracos e propensos à queda. Segundo
dermatologistas, nascem até mais
grossos, fortes e rebeldes. Isso
porque a melanina, que lhes dava
cor, é substituída temporariamente por bolhas de ar.
Os fios perdem a cor por causa
da apoptose (autodestruição programada) dos melanócitos, células produtoras da melanina alojadas no bulbo capilar. O "espaço"
antes ocupado pela melanina é
preenchido pelo ar.
"Com o tempo, o cabelo não
tem mais diferença em relação ao
cabelo pigmentado", diz o dermatologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo.
"O cabelo despigmentado não é
mais frágil", diz o vice-presidente
da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Marcio Rutowitsch.
Segundo cabeleireiros consultados, os fios resistem bem mesmo
aos procedimentos mais agressivos, como amaciamentos.
De acordo com dados da Oxford Hair Foundation, entidade
inglesa de estudos sobre o cabelo,
aos 50 anos, 50% da população
em geral tem pelo menos 50% de
fios brancos. O processo costuma
começar entre os 30 e 40 anos.
Mas os dermatologistas não vêem
anormalidade no fato de jovens
terem cabelos grisalhos.
Há evidências de que a velocidade de embranquecimento dos fios
seja diferente nas raças. Aos 45
anos, 80% dos brancos já têm fios
brancos. Entre os orientais, aos 50
anos, 80% têm os cabelos grisalhos. Já entre os negros, a mesma
proporção da população só tem
cabelos brancos aos 55 anos. A diferença, ao que parece, se baseia
na distribuição dos melanócitos,
influenciada pelo ângulo da raiz
do cabelo em relação à pele.
Arrancando os cabelos
Cientistas já "arrancaram" (os
próprios) cabelos, literalmente,
para investigar os fios brancos.
Foi o caso de Charles-Édouard
Brown-Séquard, em meados do
século 19. "Até hoje a medicina
não explica 100% deste fenômeno", diz a dermatologista do Hospital das Clínicas de São Paulo
Ana Paula Meschi.
Fatores genéticos e hereditariedade podem ser o estopim do
processo de embranquecimento.
As doenças da tireóide também
podem causar o problema. Pessoas desnutridas ganham uma
cor amarelada nos cabelos, diz
Ana Paula. Em alguns casos de
anemia também há alterações.
Estudos recentes mostraram
que o fumo e o diabetes, por alterarem a irrigação da raiz, podem
levar ao embranquecimento.
Há vários registros na história
de pessoas que teriam ficado de
cabelos brancos por causa do estresse. Seria o caso, por exemplo,
da rainha francesa Maria Antonieta -que rapidamente teria
perdido a cor dos fios ao saber da
iminente decapitação.
De acordo com os especialistas,
é mais provável que tenha ocorrido uma queda abrupta dos cabelos decorrente do pavor. Como os
fios brancos recentes são mais resistentes, só eles lhe sobraram na
cabeça.
Tintas
O única saída para quem não é
feliz com os fios brancos ainda é a
tinta. Mas não se iluda. Os produtos transparentes, que prometem
"devolução da cor natural sem sujeira", também são tinta. E os resultados podem ser muito ruins.
De acordo com os dermatologistas, eles são "tintas transparentes". A coloração se dá pelo depósito de metais pesados, que paulatinamente oxidam os fios. Primeiro dão um tom amarelado e depois escurecem o cabelo, mas podem deixar falhas. É como se enferrujassem os fios.
Produtos via oral que prometem tonificar o cabelo por enquanto têm resultados desanimadores. Um deles, de origem suíça,
tem como base o betacaroteno,
percursor da vitamina A. O cabelo
branco ganha apenas um tom
amarelado. Uma empresa americana percebeu que um gel elaborado inicialmente para acelerar o
crescimento de cabelos após o
tratamento quimioterápico conseguiu pigmentar novamente alguns fios. Mas a droga ainda está
em estudo.
Colaborou Bruno Lima, da Reportagem
Local
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