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Brasil recebe US$ 100 mi por mês
COLUNISTA DA FOLHA
Não é apenas na adaptação que
o nipo-brasileiro é um expatriado
em condições diferentes da de outros integrantes da diáspora brasileira. Há o lado brilhante dessa
história, para as contas do país e
para muitos dos dekasseguis.
Um concentrado desse lado feliz pode ser encontrado todas as
manhãs de sábado no New Kokusai Building, em pleno Marunouchi, o bairro financeiro de Tóquio.
No prédio fica a agência central
do Banco do Brasil, aberta com
autorização oficial em pleno sábado, porque é, em geral, o dia de
folga dos dekasseguis, que o utilizam para fazer remessas para os
parentes que ficaram no Brasil.
São US$ 100 milhões por mês,
conta Roberto de Camillo, gerente-geral para a Ásia. Para um país
que tem sérios problemas com
suas contas externas, o dinheiro
dos dekasseguis é uma bênção.
Do lado de fora, brilham Bito e
Bita, Simone e Fernando Onoda,
que ganharam o apelido porque
ela comia letras da palavra bonito,
reduzindo-a a Bito. A bordo de
um furgão Toyota, Fernando, 34,
vende pastéis a 250 ienes (cerca de
US$ 2) a unidade. O casal, 14 anos
de Japão, ganha o suficiente para
não ter a mais remota intenção de
voltar ao Brasil.
Como a de Bito e Bita, há muito
mais histórias de sucesso entre os
dekasseguis do que a de fracassos.
Por isso, é uma comunidade
que merece tratamento não dispensado a outras espalhadas pelo
mundo. A Varig, por exemplo, só
no Japão oferece o cartão de fidelidade Smiles X5. Significa que os
pontos obtidos pelos cinco membros de uma família podem ser
somados para conseguir uma
passagem grátis. Se quatro voarem de Tóquio para São Paulo, o
quinto ganha a passagem. No resto do mundo, as milhas só valem
para o cartão do próprio titular.
O BB oferece aos dekasseguis o
"Japan Remittance Card", que
permite que o portador efetue remessas de qualquer ponto do Japão para qualquer lugar do mundo, por meio dos 25 mil caixas eletrônicos do Correio.
E é de fato bastante utilizado: os
dekasseguis remetem por ano, ao
Brasil, em torno de US$ 1,5 bilhão.
Mas, para chegar ao sucesso, a
maioria das histórias começa com
a profunda agonia descrita por
um pioneiro na imigração para o
Japão, que nem nikkei é, o jogador de futebol Ruy Ramos.
Em depoimento ao "International Press", Ruy, 45 anos, 25 deles
no Japão, contou a sua chegada:
"Fazia muito frio, às cinco e
meia da tarde já estava tudo escuro. Não via ninguém na rua. Do
hotel ia para o treino e do treino
para o hotel. Passei uns quatro
dias chorando, só queria voltar
para o Brasil. Havia ali perto um
estúdio onde gravavam novelas
de samurai. Eu via gueixas e samurais passando por lá. Achei
que o Japão fosse só aquilo".
Não era. Virou o Eldorado para
Ruy, que chegou até a seleção japonesa (primeiro dos três brasileiros a jogar pelo time nacional
do Japão). Hoje, aposentado do
futebol, faz comerciais de TV, comentários e clínicas do esporte,
dá palestras e ainda se apresenta
no bar "Copa Tokyo", com o seu
pagode (a música, não o templo).
Para os nikkeis que vieram depois, o Eldorado toma outra forma: os classificados de emprego
do "International Press". São de
16 a 24 páginas semanais, mais do
podem oferecer muitos jornais de
capitais brasileiras.
(CR)
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