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VIDA ADULTA
Distúrbio psíquico explica comportamento de homens que têm aversão ao casamento, afirmam especialistas
Solteiros convictos podem ter gamofobia
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Homens que adiam sucessivas
vezes a data de um casamento
têm agora mais uma desculpa para não ser tachados de "enrolados" ou "engana moça". Eles podem sofrer de um distúrbio chamado gamofobia, ou medo do casamento.
A fobia pode até ter alguma relação com experiências de casamentos fracassados na família,
mas, segundo psicólogos e psiquiatras, a maior razão é a falta de
maturidade de alguns homens em
assumir a idade adulta.
"O casamento implica responsabilidades. E eles querem ser
adolescentes a vida toda", afirma
o psiquiatra José Carlos Zepellini.
O pânico masculino diante da
responsabilidade em questões como amor e casamento é tema do
filme italiano "O Último Beijo".
O filme, que mostra homens
que tentam prolongar ao máximo
a adolescência e mulheres ansiosas por formar uma família, ilustra bem a história do farmacêutico José Pedro de Almeida, 46, que
adiou o casamento três vezes.
"Cada vez que marcava a data,
começava a ter insônia. O passo
seguinte eram as taquicardias.
Depois, chamava a minha noiva e
falava que ainda não estava preparado para casar", lembra.
No terceiro adiamento, a noiva
decidiu romper o noivado. "Fiquei meio sem chão porque não
era aquilo que eu queria. Eu gostava muito dela, mas tinha pânico
de perder a minha liberdade."
O empresário Fernando Porto,
37, tinha um medo parecido mas
conseguiu superá-lo. Após oito
anos de namoro com Rosalina,
39, ele tomou coragem e a pediu
em casamento. "Não acreditava
na instituição casamento. Tinha
medo de perder a liberdade e da
rotina da vida a dois", diz.
Casado há dez anos, Porto garante que não se arrependeu. "Tudo o que consegui até hoje, carro,
casa e outros bens, foram graças
ao nosso companheirismo. Se tivesse ficado solteiro, teria gasto
tudo nos botecos", brinca.
Para a psicóloga Magdalena Ramos, coordenadora do núcleo de
casal e família da PUC-SP, muitas
vezes a pessoa fantasia "a prisão
do casamento" por não se sentir
suficientemente amadurecida para compartilhar uma vida a dois.
"Elas falam tanto que querem a liberdade, mas saem do trabalho e
vão direto para a casa da mãe."
Segundo ela, em geral, esse
comportamento é mais característico do homem, que tende a se
sentir preso mais facilmente que a
mulher. "A mulher pensa no futuro, em ter filhos. Sabe que há um
relógio biológico e, por isso, tem
urgência em uma relação estável."
A pesquisa Estatísticas do Registro Civil, do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), feita a partir de dados de cartórios, mostra que hoje homens e
mulheres estão casando mais velhos do que há dez anos.
Em 2001, diz a pesquisa, as mulheres se casaram com idade média de 26,4 anos, e os homens,
com 29,9 anos. Em 1990, a média
das mulheres era 23,5 anos, e dos
homens, 26,9 anos.
Para a técnica Elisa Caillaux, do
IBGE, as dificuldades financeiras
estão alterando o perfil dos relacionamentos, levando as pessoas
a preferirem se firmar no emprego e estudar mais antes de casar.
O editor de imagem Rafael
Rampazzo Gambarato, 30, é um
exemplo disso. Namora há nove
anos a dentista Simone, 28, e diz
que o motivo para adiar o casamento, "para daqui a uns quatro
anos", não é o medo. "É uma decisão racional. Queremos trocar de
carro, viajar para o exterior, comprar terreno, construir casa para
depois pensar em casamento."
O casal se conheceu em Americana e, seis meses depois, a partir
de janeiro de 1995, passou a se ver
apenas nos finais de semana. Primeiro porque Simone foi estudar
em Alfenas (MG). Um pouco antes de ela terminar a faculdade,
Gambarato mudou-se para São
Paulo. "Assim dá menos briga."
Para a psicóloga Noely Montes
Moraes, 50, o que acontece com
Gambarato e a namorada é um fenômeno cultural contemporâneo
e cada vez mais frequente.
"Como hoje há mais liberdade,
o casal de namorados pode continuar na casa dos pais, ou morar
sozinho, e dormir juntos, viajar,
enfim, curtir a vida. É claro que o
homem fica temeroso de deixar
isso tudo e assumir os compromissos do matrimônio", diz.
Segundo ela, a instituição casamento é hoje muito questionada
e, por exigir uma boa dose de renúncia, as pessoas estão se perguntando se vale realmente a pena. "Uma relação estável, comprometida, não precisa necessariamente culminar no casamento", afirma a psicóloga.
Para Moraes, o questionamento
também tem sido feito pelas mulheres que têm independência financeira, especialmente aquelas
que já casaram anteriormente.
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