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SAÚDE
Carência de vitaminas e minerais reduz a resistência, prejudica o metabolismo, causa cansaço e fraqueza
"Fome oculta" afeta 25% das pessoas
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Hérika Puríssimo tem um peso
normal e vive em ótimas condições, mas padece, assim como
muitos outros brasileiros de bom
poder aquisitivo, de uma fome
que não dá sinais de desnutrição
nem move grandes campanhas.
O termo "fome oculta" é empregado pelos especialistas em alimentação para definir a carência
de micronutrientes (vitaminas,
minerais) que não causa danos
aparentes à saúde mas que, devagar, mina a resistência do organismo, atrapalha seu metabolismo,
traz tanto cansaço e fraqueza a
quem sofre do problema que derruba o rendimento no trabalho, a
vontade de estudar ou de "sair da
cama", como diz Hérika, que sofre periodicamente de anemia
(carência grave de ferro).
"Ela atinge qualquer camada
social. Os mais pobres porque não
comem o suficiente. A classe rica,
que poderia fazer alimentação
preventiva, porque não gosta de
vegetais", diz Rebeca de Angelis,
química especializada em nutrição e autora do livro "Fome Oculta" (Editora Atheneu).
No Brasil, apesar de não existirem dados consolidados, uma série de estudos recentes tem apontado alta prevalência de deficiências de vitamina A e ferro, disseminada por todo o país.
O problema é mais preocupante
em regiões pobres, mas não tem
relação somente com baixa renda
e pouca escolaridade. Entre os
que vivem bem, é reflexo principalmente de modismos, falta de
conhecimento sobre os alimentos, tabus. E também da associação errônea de fontes dos nutrientes com alimentos que dificultam sua absorção- como café
e refrigerantes, no caso do ferro.
Maiores carências
As deficiências de vitamina A,
ferro e iodo são priorizadas pela
Organização Mundial da Saúde,
por serem as três maiores carências nutricionais mundiais. A fome oculta afeta uma em cada quatro pessoas no mundo.
No Brasil, onde 90% das famílias têm acesso ao sal iodado, a deficiência do micronutriente já não
é problema. Mas até em países desenvolvidos a anemia é preocupante, com prevalência de cerca
de 12%. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo com
8.000 crianças de 0 a 6 anos em 20
capitais mostrou prevalência de
53% de anemia entre os pré-escolares de creches. Outro estudo do
mesmo grupo, em escolas públicas, apontou 15% de prevalência.
"É resultado de hábitos errados
com as combinações inadequados de alimentos", diz, sobre o
problema, Mauro Fisberg, chefe
do setor de adolescentes da Unifesp e diretor de nutrição da Universidade São Marcos, ambas escolas de São Paulo.
Quase 1 bilhão de pessoas no
mundo sofrem de deficiência de
vitamina A. No ano passado, a
professora Andréa Ramalho, titular do Instituto de Nutrição da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, publicou em revista da
Organização Pan-Americana de
Saúde um estudo de revisão bibliográfica em que apontava índices de fome oculta de vitamina A
de 30% a 50%, principalmente em
crianças brasileiras.
Em todas as regiões estudadas
(Sudeste, Norte e Nordeste, principalmente), a carência é alta em
todas as faixas etárias. Inquéritos
nutricionais realizados nos últimos 25 anos no país indicam que
cerca de 60% da população tem
ingestão extremamente baixa do
nutriente de fontes naturais.
"Não há outro micronutriente
com mais relação com o sistema
imune do que a vitamina A", diz
Ramalho. "A fonte animal mais
importante de vitamina A é fígado. A carne é barata, mas as pessoas resistem ao sabor", diz ela sobre um dos tabus que causam a
carência do micronutriente.
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