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URBANISMO
O arquiteto paulistano Ruy Ohtake projetou alguns dos prédios que estão redesenhando a paisagem de São Paulo
Inovações arquitetônicas geram polêmica
LUCIANA MACEDO
DA REVISTA
Melancias e carambolas estão
brotando no concreto de São Paulo. E o fenômeno não é transgênico, mas arquitetônico. Os frutos
mais recentes dessa mutação urbana são o hotel Unique, um prédio em formato de fatia de melancia na avenida Brigadeiro Luís
Antônio, e a carambola lilás que
salta aos olhos na fachada do Instituto Tomie Ohtake, na avenida
Pedroso de Moraes, em Alto de
Pinheiros (zona oeste).
O autor dessas peripécias é o arquiteto paulistano Ruy Ohtake,
66, que fez cerca de 30 projetos de
grande porte na cidade -entre
eles o hotel Renaissance, o Parque
Ecológico do Tietê e os prédios do
grupo farmacêutico Aché, na via
Dutra, que lhe renderam o primeiro prêmio na Bienal Internacional de Arquitetura de 1973.
"Tenho duas referências muito
fortes. O Aleijadinho [escultor
barroco mineiro], de quem busco
a leveza, e o Niemeyer, que é o arquiteto mais importante do século 20", diz Ohtake.
Solteiro, com dois filhos, o primogênito da artista plástica Tomie Ohtake subverteu a crença de
que gosto não se discute. De garçons a urbanistas, não há indiferença que resista a suas obras.
Entre os arquitetos e urbanistas,
a maioria prefere não comentar.
Oscar Niemeyer não quis falar da
obra como um todo, mas já elogiou por escrito o amor de Ohtake
"pela curva, pela criatividade, pelo espetáculo arquitetural". Paulo
Mendes da Rocha, outro profissional bastante respeitado, foi
ainda mais econômico: "Estou fora, arquiteto não fala de obra de
colega". Extra-oficialmente, no
entanto, sabe-se que também entre eles as opiniões se dividem.
Carlos Alberto Cerqueira Lemos, 76, professor de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP, onde Ohtake
se formou em 1960, louva sua "inventividade", mas não se empolga
com o estilo. "O Unique é parte de
uma arquitetura "semostradeira",
para usar uma palavra inventada
pelo Mário de Andrade. No fundo, para quem passa na rua, o hotel está dizendo "estou aqui'", diz.
"Pelo menos ele sai da mesmice,
ousa fazer coisas esquisitas, que
não caem no gosto de todo mundo", defende Regina Monteiro,
46, arquiteta, urbanista e presidente do Movimento Defenda
São Paulo.
Acampamento
A falta de uma cara -ou o excesso de caras diferentes- da cidade é um problema genético. Inflada pela imigração vertiginosa a
partir do século 18, São Paulo era
encarada por boa parte de seus
habitantes como uma espécie de
acampamento temporário. "O
imigrante chegava com um pensamento colonizador, aquela
idéia de trabalhar, ganhar dinheiro e voltar para sua terra. Não estabelecia uma relação duradoura
com o espaço que ocupava", explica o diretor da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP,
Ricardo Toledo, 52.
A cidade cresceu, a população
se fixou, mas a filosofia do transitório persiste. "Essa analogia de
acampamento continua hoje em
incorporadoras e alguns arquitetos comerciais, cuja relação com a
cidade é de desapego", diz Toledo. Em linhas gerais, pode-se dizer que a atuação das incorporadoras resulta em duas "caras"
mais evidentes. Nos edifícios comerciais, prevalece o moderno,
com prédios em vidro, aço e geometria forte. São as construções
típicas do "skyline" das avenidas
Berrini e Nova Faria Lima.
Já no setor residencial impera
um certo conservadorismo, com
a releitura do estilo neoclássico,
prédios com pinturas em tons
pastéis, frisos, molduras, balaústres e colunas.
É essa padronização que Ruy
Ohtake diz querer combater.
"Quando começaram a imitar os
europeus, vieram todos esses
"néos", e aí ficou tudo beginho,
cinzinha, azulzinho. O que eu faço
é colocar o inesperado na paisagem. Alguns não gostam, mas
vou fazer o quê? Toda vanguarda
é polêmica", diz. "A cara de São
Paulo ainda não existe, está para
se formar." Se depender de sua
produção de melancias e carambolas, será uma cara bem tropical.
Colaborou Débora Yuri, da Revista
Leia a reportagem completa da Revista
no site www.uol.com.br/revista
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