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COMPORTAMENTO
Estudo em 11 capitais revela que só 6% dos pesquisados são 100% responsáveis, mas 37% têm algum compromisso
Consumo consciente engatinha no país
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você nunca sai e deixa as luzes acesas, só escova os dentes
com a torneira fechada, separa o
lixo para a reciclagem, desliga
aparelhos quando não estão em
uso, mas compra por impulso,
nunca pede a nota fiscal, acha
produtos orgânicos e feitos com
papel reciclado uma besteira e, ao
se sentir lesado por uma empresa,
diz a si mesmo que não vale a pena reclamar, não se preocupe. Você pertence ao grupo que reúne a
maior parte dos brasileiros. Ou
melhor, preocupe-se. Há ainda
muito a fazer para se tornar um
consumidor 100% responsável.
Pesquisa realizada no fim do
ano passado pelo Instituto Akatu
em 11 das maiores capitais brasileiras constatou que apenas 6% da
população pode ser classificada
como consciente no que diz respeito às relações de consumo. No
outro extremo, só 3% são indiferentes em relação ao tema.
O meio de campo, por sua vez, é
preenchido por 54% de iniciantes,
os que engatinham em termos de
consciência, e 37% de pessoas que
já têm comprometimento com
certas responsabilidades, mas
ainda deixam outras de lado. Ou
seja, a realidade pode ainda não
ser a ideal, mas promete.
Essa é a avaliação que Helio
Mattar, diretor-presidente do
Akatu, faz dos resultados do estudo. A opinião é compartilhada
por representantes dos principais
órgãos de defesa do consumidor
de São Paulo: o Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) e o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
O otimismo se justifica, diz Mattar, porque a soma dos conscientes com os comprometidos resulta em 43% dos entrevistados (leia
entrevista abaixo.). Isso significa
que quase metade das pessoas
disseram adotar pelo menos 8 dos
13 comportamentos que formam
um consumidor responsável.
"É uma boa surpresa", comemora Marilena Lazzarini, coordenadora institucional do Idec.
É claro que não estão descartadas pequenas mentiras na hora de
responder às perguntas, nem a
distância que separa o discurso da
prática. "Mas o crescimento do
nível de consciência é algo irreversível, e as empresas que não
entenderem isso vão ter poucas
chances de sobrevivência no futuro", sentencia o chefe de gabinete
do Procon-SP, Vinicius Zwarg.
Para o Akatu, o consumidor
consciente é o que mostra disposição para transformar em práticas cotidianas os valores com que
se identifica e tende a reconhecer
a relação do indivíduo com o coletivo e com as futuras gerações.
Perfis
O que mais parece pesar no grau
de consciência dos consumidores
são grau de escolaridade e renda.
Entre os conscientes, o percentual
de pessoas com ensino médio ou
superior completo é de 63%
-enquanto na amostra geral elas
representam 44%. No mesmo
grupo, a fatia de entrevistados das
classes A e B ficou em 48%, contra
30% no geral.
Entre os indiferentes predominam pessoas na faixa de 18 a 24
anos, da classe D, com menor
grau de instrução, solteiras e com
uma renda média mensal domiciliar de cerca de R$ 900 (53% ganham no máximo R$ 600).
Os iniciantes seguem praticamente o mesmo perfil da amostra
geral em termos de classe social,
sexo e idade, com uma renda média mensal domiciliar de aproximadamente R$ 1.027. O mesmo
ocorre com os comprometidos,
que apresentam, porém, uma
concentração maior na faixa de 25
a 39 anos, tendem a ter um grau
de instrução levemente superior
ao dos iniciantes e renda média
familiar de cerca de R$ 1.060.
Já entre os conscientes estão
pessoas das classe A e B, com mais
de 40 anos, casadas e com filhos,
além de um grau de instrução
mais elevado e renda familiar por
volta de R$ 1.330 (sendo que 14%
ganham mais de R$ 2.000).
"É preciso haver um maior investimento na orientação da sociedade como um todo [para o
consumo consciente]", defende
Zwarg. Ele diz que o Procon-SP
está buscando agilizar e simplificar seus procedimentos e o acesso
à informação para evitar que as
pessoas desistam de reclamar por
causa de trâmites burocráticos.
Já Lazzarini diz que a educação
para o consumo é fundamental,
principalmente entre as camadas
mais pobres. Ela afirma que a publicidade e a televisão criam necessidades e padrões de consumo
iguais para pessoas com poderes
de compra diferentes, uma distorção que precisa ser superada.
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