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"Responsável" tenta converter amigos e família
DA REPORTAGEM LOCAL
Há algumas semanas,
Eduardo Severino Mencarini, 25, recebeu amigos para
jantar no apartamento em
que mora, em Higienópolis
(área nobre da região central
de SP). A reunião foi um sucesso, mas, na hora de arrumar e limpar tudo, começaram as gozações. O motivo?
"Eu ficava o tempo todo dizendo: "Não joga isso aí no lixo, não. Separa para a reciclagem". O pessoal acha engraçado", conta.
Os colegas e até o marido
de Daniela Corrêa Simão, 28,
têm reações semelhantes.
"Eles acham estranho que eu
vá a um supermercado específico só para comprar uma
marca de pão de fôrma que
tem um projeto social. Às vezes dizem até que sou chata."
De chata, Graça Martins
Toledo, 55, já foi chamada
algumas vezes, até pelos próprios filhos, quando eles
eram adolescentes. "Estávamos na praia, e eu fui reclamar com o dono da barraca
porque ele deixava o chuveiro pingando o dia inteiro.
Perguntei se ele sabia quanta
água desperdiçava. Depois
tive de ouvir dos meninos:
"Pô, mãe! Você tem de ficar
dando sermão em todo
mundo?"."
Os três exemplos mostram
que nem sempre é fácil a vida do consumidor consciente, mas quem pertence a esse
grupo afirma que não desiste e ainda consegue "converter" amigos e parentes. Tudo
isso com a mesma justificativa: se cada um tomar certas
atitudes que à primeira vista
parecem pequenas e pontuais, o resultado da soma
será uma mudança.
"Passei a almoçar sempre
no Gendai [rede de restaurantes japoneses] porque
eles trocaram os pratos e vasilhas descartáveis pelo retornáveis", diz Simão, que é
publicitária.
"Consegui implantar a coleta seletiva no meu prédio e
mandei cartas para todos os
síndicos da minha rua sugerindo que fizessem o mesmo", diz Mencarini, que trabalha como pesquisador social em uma multinacional.
"Pelo menos consegui fazer meus filhos verem que
economizar água não é uma
chatice de mãe", afirma Toledo, que é médica em Salvador e se considera uma
"cliente assídua" do Procon
baiano. Nesse ponto, ela é
uma exceção. A pesquisa do
Akatu mostra que 81% dos
entrevistados nunca recorreram a órgãos de defesa do
consumidor.
(MV)
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