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ENTREVISTA
Portadores de doença pulmonar cobram programas do governo
DA REPORTAGEM LOCAL
A Associação Brasileira de Portadores de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) cobra
um programa público de assistência aos portadores do problema. Quer ainda que as campanhas antifumo dêem mais destaque para o risco de a fumaça do cigarro gerar um bloqueio das vias
aéreas. Mais de 90% dos casos da
doença no mundo são relacionados ao tabagismo.
Segundo a associação, o SUS
não oferece tratamento completo
ainda, apesar de a DPOC ser a
quinta causa de morte no país. Na
quarta-feira, foi o dia mundial da
doença. O Ministério da Saúde informou que realiza um encontro
amanhã para discutir políticas para as doenças respiratórias.
"É pior do que o câncer de pulmão", afirma Maria Christina
Lombardi Machado, 49, diretora
médica da entidade. "E ninguém
se preocupa." Leia a seguir trechos de sua entrevista.
Folha - Por que um dia mundial
para lembrar da DPOC?
Maria Christina Machado - Definiu-se que a doença é uma questão de saúde pública. Em 90% ou
mais dos casos, ela é causada por
tabagismo. Como é uma doença
sistêmica, provavelmente será
uma das três primeiras causas de
morte no mundo todo em breve.
Hoje é a quarta causa, no Brasil é a
quinta. E é pior do que o câncer de
pulmão.
Folha - Por quê?
Machado - É pior em termos de
prevalência. Estima-se que no
Brasil 15% das pessoas adultas
que fumam tenham DPOC. De 50
milhões [de fumantes], seriam 7,5
milhões de portadores. Não temos nem 1 milhão de pessoas
com câncer de pulmão. E com
DPOC ninguém se preocupa.
Folha - Mas e as campanhas antitabagistas, não fazem isso?
Machado - As campanhas são feitas por órgãos de cancerologia e
cardiologistas. Os pneumologistas estão se mobilizando agora. Isso depende de uma conscientização do Ministério da Saúde. O paciente pode ter câncer de pulmão.
Mas vai ter DPOC com câncer.
Pode ter um infarto, mas ele vai
ter DPOC com infarto.
Folha - Qual é o mecanismo de
ação da doença?
Machado - Você tem as vias aéreas, que são os brônquios, subdividindo até os pequenos bronquíolos e, finalmente, os alvéolos,
onde ocorre a troca do oxigênio
pelo gás carbônico. Quando a fumaça do cigarro passa pelas vias
aéreas, vai causando inflamação
crônica, irritando as glândulas
que produzem o muco no pulmão. Elas começam a produzir
muito catarro. Com isso, o paciente tosse muito. A fumaça
também provoca inchaço dos
brônquios, o que diminui a passagem do ar. Incham por dentro,
o ar entra e não sai. É a bronquite
crônica. Quando a fumaça começa a destruir o alvéolo, onde se dá
a troca de oxigênio por gás
carbônico, temos o enfisema. Há
pacientes que vão direto para o
enfisema. Alguns só têm bronquite crônica. Mas as duas coisas
estão englobadas na doença. O
principal sintoma é a falta de ar
progressiva.
Folha - E o tratamento?
Machado - É parar de fumar,
usar broncodilatadores, antibióticos, antiinflamatórios, fazer reabilitação pulmonar e fornecer
oxigênio nos casos avançados.
Folha - Essas possibilidades são
oferecidas pelo sistema público?
Machado - Nosso principal objetivo é conseguir remédios e oxigênio pelo SUS. Não existe um
programa para a doença no país.
Os remédios bons são caros. Para
pacientes graves, com o oxigênio,
são R$ 500 mensais no mínimo.
Tratando e dando oxigênio, o número de internações de pacientes,
que era de três meses por ano em
média, caiu para meia internação
por ano, pelo menos na unidade
em que trabalho, o Hospital do
Servidor Público Estadual, de São
Paulo.
(FL)
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