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GUERRA URBANA
Governo agora afirma que, dos 110 mortos em ações policiais, 79 tinham ligação com a facção criminosa, mas não divulga lista
Secretário da Segurança Pública e comandante-geral da PM dão explicações contraditórias para a diferença no total de mortes
Estado diz que 31 mortos não eram do PCC
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pressionado para divulgar a
lista de mortos em ações policiais, o governo paulista recuou
e ontem reduziu o número de
mortes de suspeitos de ligação
com o PCC em confronto com a
polícia. Até anteontem, a gestão Cláudio Lembo (PFL) dizia
ter matado 109 "criminosos" da
facção. Ontem, o balanço era de
110 mortos, sendo 79 envolvidos com o grupo criminoso.
O secretário da Segurança
Pública, Saulo de Castro Abreu
Filho, e o comandante-geral da
Polícia Militar, Elizeu Eclair
Teixeira, deram explicações
contraditórias para a diferença
dos dados em entrevista no Palácio dos Bandeirantes.
Saulo afirmou que o governo
havia divulgado um dado "bruto" sobre as mortes, com todos
os casos de violência ocorridos
no período no Estado. Ou seja,
haveria casos de mortos que
não teriam ocorrido em confronto com a polícia. "Num primeiro momento, nós computamos lesão corporal seguida de
morte, suicídio, não importa.
Toda morte que não foi natural,
portanto foi ao IML, computa."
O secretário disse ainda que
o governo "sempre" deixou isso
claro, embora o próprio site da
Secretaria da Segurança, após a
entrevista, ainda informasse
um total de 109 mortos do PCC.
Já o comandante-geral da
PM afirmou que todos foram
mortos pela polícia, mas que a
diferença se deu em razão de
confrontos em casos de crimes
comuns. "Casos de resistência
seguida de morte normais em
assaltos a padarias, bancos e residências", afirmou.
Por essa lógica, teria havido
uma explosão de confrontos
entre criminosos comuns e policiais. Segundo dados do próprio governo, a média de mortes em confronto com a polícia
no primeiro trimestre deste
ano foi de 1,3 por dia. Em uma
semana, teriam sido 31 casos de
confronto sem ligação com o
PCC -média de 4,4 por dia.
Na semana passada, o coronel havia declarado que a criminalidade comum sofrera
uma redução de 50% durante a
crise provocada pela onda de
violência do PCC.
Nomes dos mortos
Ontem, Abreu Filho disse
que encaminhará a lista dos
mortos ao Ministério Público,
mas não deu certeza de cumprir o prazo de 72 horas estabelecido pelo procurador-geral de
Justiça do Estado, Rodrigo Pinho, que acaba na quinta-feira.
O não-cumprimento da ordem, segundo Pinho, incorre
em crime de desobediência, sujeito a pena de 15 dias a seis meses de detenção.
A determinação foi encaminhada ao delegado-geral Marco
Antonio Desgualdo e ao comandante da PM. O diretor do
IML, Hideaki Kawata, também
citado no requerimento, recebeu um prazo maior (cinco
dias) para o envio dos laudos.
"Não há compromisso com a
pressa. Há com a verdade", respondeu Saulo sobre o prazo.
Desde o domingo retrasado,
14 de maio, a Folha também
solicita a lista. Ontem, o presidente da OAB, Luiz Flávio Borges D'Urso, pediu pessoalmente a lista a Saulo, mas não obteve sucesso. D"Urso lamentou a
recusa e disse que a publicação
dos nomes seria "útil para o Estado e para a opinião pública".
Na entrevista, Abreu Filho
admitiu a possibilidade de haver algum inocente na lista de
mortos pela polícia. "Até onde
a gente pode ter certeza de que
as pessoas que foram mortas
têm algum tipo de vinculação?"
Saulo usou essa possibilidade para justificar a não-divulgação da lista para a imprensa.
"Nós, por princípio de governo,
não podemos ter a irresponsabilidade de pôr um nome a público -eu estou vendo nomes
no jornal- e essas pessoas por
ventura serem inocentes e terem ido para o IML por uma
condição absolutamente distinta daquela dos ataques."
Antecedentes
Além de rever o número de
mortos, o governo divulgou o
número de suspeitos do PCC
mortos com passagem pela polícia. Dos 79, 55 foram identificados pela polícia, sendo que 49
teriam ficha criminal. Do total
de 79 mortos, 62 teriam morrido em reação imediata da polícia após os ataques do PCC e
outros 17, em "ações preventivas", relacionadas a denúncias.
O governo diz que ainda precisa fazer a identificação de 24
mortos relacionados aos atentados e de 23 mortos após resistência nos crimes comuns.
Promotor não comenta
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo Pinho,
disse ontem que prefere não
opinar sobre a variação de números de mortos na lista da Secretaria da Segurança: "Quem
deve explicar essa variação é a
Secretaria da Segurança, é o secretário, o autor dos números".
Pinho participou de reunião
com Abreu Filho momentos
antes de o secretário divulgar
os novos números.
Colaborou REGIANE SOARES
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