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Na prática, professor tem reajuste menor que divulgado
Aumento de 12% no piso significará 5,41%, pois governo incorporou gratificação que já é paga
Último reajuste havia ocorrido em 2005 na gestão Alckmin; sindicato dos professores diz que incorporação não é aumento
CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O reajuste de cerca de 12% no
salário-base anunciado na semana passada pelo governo José Serra (PSDB) aos professores significa, no bolso, 5,41%.
Isso porque o governo decidiu incorporar ao salário uma
gratificação de R$ 80 que já é
paga a todos os professores
(menos os inativos) desde
2000. Na prática, esse valor
apenas vai mudar de lugar no
contracheque.
Hoje, um professor de 1ª a 4ª
série em início de carreira recebe R$ 1.166,83 de piso, mais
uma gratificação de R$ 80 por
"trabalho educacional", uma
outra de R$ 175,03 (15% do piso) chamada de "atividade magistério", mais R$ 80 de "gratificação geral" e R$ 32 de "prêmio de valorização".
Ou seja, rendimento total de
R$ 1.533,83. Com o reajuste de
5,41% e a incorporação, passará
a R$ 1.617,54. "Não existe 12%",
afirma o presidente da Apeoesp
(sindicato dos professores),
Carlos Ramiro. "A gente quer a
incorporação das gratificações,
sim, mas não adianta isto contar como um reajuste que a
gente não tem há anos."
O aumento do piso foi anunciado quinta passada, quatro
dias após o início da greve da
categoria, embora a Secretaria
da Educação afirme que estudava a medida desde março.
O último reajuste ocorreu
em 2005, na gestão Geraldo
Alckmin (PSDB). Desde então,
a inflação foi de 13,6% segundo
o INPC (Índice Nacional de
Preços ao Consumidor).
A Secretaria de Estado da
Educação confirma que a Gratificação por Trabalho Educacional será extinta após o reajuste. A assessoria do órgão, no
entanto, argumenta que outras
gratificações são calculadas sobre o salário-base -portanto,
com a incorporação da gratificação, o salário final aumenta.
A Apeoesp também reclama
que o reajuste é divulgado sobre um salário-base de 40 horas, quando a maioria dos professores trabalham menos.
"Esta carga horária é inventada, a gente tem de fazer uma
conta lá e descobrir quanto é
que vai ganhar", diz Ramiro.
Os concursos para rede estadual de ensino são para trabalhos de 24 horas ou 30 horas.
Não existe concurso para 40
horas. A Secretaria de Educação, porém, diz que um número
grande -não especificado- de
professores trabalha 40 horas.
Ontem, no primeiro dia da
segunda semana de greve, a Folha visitou 29 escolas das zonas
leste e oeste de São Paulo e
constatou que 11 estavam com
professores a menos (38%). A
secretaria diz que apenas 2%
aderiram; a Apeoesp, 70%.
Funcionários e alunos das escolas visitadas pela reportagem
disseram que havia professores
ausentes por conta da greve,
mas só duas escola estavam
com anúncios da paralisação.
A E.E Pereira Barreto, na Lapa, tinha uma faixa. Alunos do
2º ano do ensino médio, Geise
da Silva, 16, e Camila Souza, 15,
estavam na porta do colégio
por volta das 12h30.
Não tiveram aula pela manhã
nem na semana passada, afirmam. Foram ao colégio, dizem,
porque achavam que a greve
teria terminado. A Gabriel Ortiz, na Penha, zona leste, estava
parada.
A greve começou por causa
de um decreto do governador
que impede a transferência de
professores durante o ano e
institui uma prova para classificação de professores temporários na escolha de aulas. Hoje, a classificação é feita por número de pontos. Quem tem
mais experiência escolhe primeiro. Agora, os professores
pedem reajuste de 45% para
elevar o piso a cerca de R$
2.000. Na sexta haverá uma
passeata em protesto.
Férias
Quando a greve terminar, as
escolas que tiverem cancelado
aulas terão de fazer reposição.
Cada diretor escolherá a maneira de repor as aulas perdidas. Isso poderá ser feito no recesso de julho, aos sábados ou
no fim do ano. O importante é
chegar aos 200 dias letivos.
Colaboraram RICARDO WESTIN, da Reportagem local, BRENO COSTA e AMARO GRASSI ,
da Colaboração para a Folha
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