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NOVA CHANCE
Alcoólicos Anônimos reúnem-se em hospital da zona leste de SP
Grupo tenta recuperar dependentes
DA REPORTAGEM LOCAL
Um projeto inédito desenvolvido há cinco anos no hospital
municipal de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo,
tem ajudado na recuperação de
pacientes alcoólatras.
Em vez de os doentes serem
encaminhados a grupos de ajuda, como o AA (Alcoólicos Anônimos), são os integrantes desses grupos que vão até o hospital
tentar convencer os pacientes a
deixarem o álcool. A idéia é evitar que os pacientes, recuperados da crise, saiam do hospital e
parem no primeiro boteco que
encontrar pela frente.
Segundo o psiquiatra João
Coimbra, coordenador do grupo de saúde mental do hospital,
30% das emergências psiquiátricas atendidas no local são
provocadas por embriaguez.
Por mês, são atendidos em média 600 casos de distúrbios psiquiátricos.
Ele afirma que após o início do
trabalho dos voluntários do AA
no hospital, pelo menos metade
dos pacientes conseguiu se livrar, ainda que temporariamente, da bebida.
Os voluntários, porém, não
são tão otimistas assim. "De cada dez que vêm nos ouvir, apenas um ou dois se interessam e
vão nos procurar ao sair do hospital", diz Bruno, 59, que coordena um dos grupos do AA na
zona leste e que está há 19 anos
sem beber.
As reuniões acontecem diariamente, sempre às 20h, em uma
sala do hospital. Na última
quinta-feira, cinco pacientes
que haviam sido internados naquele dia por algum distúrbio
psiquiátrico provocado pelo álcool participaram do encontro.
Levados por uma enfermeira,
os doentes se aproximaram cabisbaixos, sentaram-se nos lugares reservados escutaram as
experiências dos voluntários do
AA em silêncio, sem nenhuma
demonstração de interesse ou
entusiasmo.
Foi o caso de Luiz (o sobrenome não pode ser divulgado), 52,
internado no hospital desde o
último dia 10, depois de apresentar uma "tremedeira" após o
almoço do Dia dos Pais.
Luiz nega que seja dependente
do álcool. "Só preciso aprender
a beber uma dose no almoço e
outra na janta. Desse jeito não
faz mal", diz ele.
Já o paciente Akendes, 29, reconhece ser dependente de álcool e drogas. Diz ter perdido as
contas de quantas vezes foi levado ao hospital de Ermelino Matarazzo. "Sou freguês aqui. Todo mundo já me conhece. Sou
um caso perdido", diz.
Akendes levou o primeiro copo de bebida à boca aos dez
anos de idade. E nunca mais parou. Aos 12, experimentou pela
primeira vez maconha. E também nunca mais parou.
Ele diz que os vícios são "apenas esses dois" e que para sustentá-los já furtou e roubou.
"Fui parar cinco vezes na Febem", afirma Akendes.
Na madrugada de quinta-feira, ele deu entrada no hospital
com crise convulsivas, após ter
ingerido um litro de conhaque.
"Fiz um bico e recebi a garrafa
de pagamento", diz. (CLÁUDIA COLLUCCI)
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