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RETRATOS DA METRÓPOLE
Só um terço da capital paulista ganha nota 5 em ranking que mede condições de vida da juventude
Estudo mapeia opções de jovem paulistano
LULIE MACEDO
ALESSANDRA KORMANN
DA REVISTA
Se fosse um exame, praticamente apenas um terço da "classe" seria aprovada -e, mesmo assim, a
maioria passaria raspando. Em
um índice inédito sobre as condições de vida que a cidade de São
Paulo oferece à sua juventude,
calculado pela prefeitura, apenas
36 dos 96 distritos da capital paulista obtiveram média acima de
0,5, entre 0 e 1 possíveis.
O retrato -uma espécie de versão distrital do IDH, o Índice de
Desenvolvimento Humano criado pelo ONU para avaliar a qualidade de vida nos países- faz parte do Mapa da Juventude, pesquisa maior que investigou raça, escolaridade, trabalho, inclusão digital, hábitos de lazer e situação
familiar em 5.250 domicílios.
O estudo, encomendado pela
Coordenadoria da Juventude e
desenvolvido pelo Cedec (Centro
de Estudos de Cultura Contemporânea), entrevistou durante
seis meses 2.260 jovens entre 15 e
24 anos, distribuídos em cinco zonas que os pesquisadores chamaram de homogêneas. Essa classificação ignora a divisão geográfica
tradicional e constrói novos blocos a partir dos indicadores sociais de cada distrito -o que
aproximou regiões distantes no
mapa, mas próximas em condições de vida.
Foram levados em conta os percentuais de população jovem,
mães adolescentes e viagens por
lazer, além de crescimento populacional entre 1991 e 2000, mortalidade por homicídios, escolaridade, índice de mobilidade e rendimento familiar.
A tabulação de dados compôs
um perfil para cada zona. Aylene
Bousquat, especialista em saúde
pública e professora da Universidade Católica de Santos, coordenou a pesquisa e acredita que a estatística pode indicar uma tendência, que pode funcionar como
bússola para projetos futuros.
"É impossível desenvolver
ações públicas sem identificar o
comportamento e a diversidade
da população. Um dos principais
objetivos da elaboração do mapa
é descobrir o que o jovem de São
Paulo faz, do que ele gosta, pelo
que se interessa", diz Alexandre
Youssef, titular da Coordenadoria
da Juventude.
O mapeamento pode servir para orientar o lançamento de programas em outras áreas da administração, como saúde (o conhecimento dos jovens sobre a Aids
foi uma das questões investigadas) e lazer.
Um dos maiores investimentos
do estudo foi o rastreamento das
turmas da cidade, na tentativa de
desvendar interesses comuns que
unem os jovens em grupos específicos. Entre os 1.609 identificados, há desde anarquistas vegetarianos radicais a dançarinas evangélicas, e os grupos musicais são a
formação mais frequente.
O estudo também revelou facetas paulistanas pouco lembradas,
como a cordialidade típica das cidades pequenas em extremos do
mapa. Os pesquisadores, cerca de
60 estudantes de ciências sociais
da USP e PUC-SP, contam que os
moradores chegavam a emprestar seus próprios guarda-chuvas.
Mas, para não desmentir o cotidiano de violência das periferias,
em pelo menos um lugar o medo
impediu que o levantamento fosse realizado, um local da Vila Prudente controlado pelo tráfico.
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