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Pediatra diz que hoje não faria o aborto
Médica que cuidou de anencéfala diz que caso abre precedente e que impossibilidade de sobrevida "já não se confirma"
Márcia Beani diz que não faz apologia para que mulheres evitem ou não interromper a gravidez em casos como o da menina Marcela
GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
Acostumada a dar explicações apenas técnicas sobre o estado de saúde de Marcela de Jesus Galante Ferreira, a pediatra
Márcia Beani, que cuidou da
menina anencéfala durante os
20 meses de vida, acabou formando também uma opinião
pessoal sobre o assunto.
"Eu não faria o aborto. Nunca
tinha pensado nisso antes, mas
hoje não faria", afirmou Beani.
A médica, no entanto, não revela se é contra ou a favor da interrupção da gravidez em tais
casos. "Eu não faço apologia para que as mães façam o que a
Cacilda (Galante Ferreira, mãe
de Marcela) fez, e nem para o
aborto", disse.
Para a médica, Marcela foi
um presente. "Se algum dia
aparecer outro caso, será outro
presente. Ela me ajudou a crescer profissionalmente e pessoalmente", disse.
Para Beani, o caso pode mudar os paradigmas a respeito da
sobrevida em bebês com anencefalia. "O caso da Marcela
abriu um precedente nunca
visto. Ela teve a vida plena. Viveu com a mãe, trouxe alegria.
Se você disser que uma criança
anencéfala não tem condição
de sobrevida, que é o que vemos
em literatura, que vai ficar em
estado vegetativo, isso já não se
confirma", afirmou Beani.
Segundo a médica, Marcela
era uma criança tão ativa que
chegou a arrancar, em três ocasiões, a sonda por meio da qual
recebia alimentos.
A surpresa com a resistência
da menina fez Beani desistir
das previsões de sobrevivência
depois do primeiro mês de vida
da anencéfala. Segundo a médica, cerca de metade dos fetos
anencéfalos nem chegam a nascer e, dos que nascem, cerca de
95% vivem poucas horas.
A pediatra criticou os médicos que, à distância, opinaram
que Marcela não era anencéfala, e que, por isso, o caso da menina não poderia ser citado na
condução do debate sobre a interrupção da gravidez. "É antiético. Não sei como uma pessoa que conhece de leitura um
caso pode opinar sobre isso
sem nunca ter visto a criança."
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