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COMPORTAMENTO
Classe média redescobre o mundo do circo com a prática de malabares, que melhora condicionamento físico
Paulistano faz malabarismo para fugir do estresse
DA REPORTAGEM LOCAL
Abandonar uma carreira de advogado para trabalhar como malabarista parece coisa de quem
tem uma visão romântica da sociedade? Então, os românticos
ainda sobrevivem, pois foi exatamente essa a decisão de Luiz
Francisco Vasconcelos, 29, mais
conhecido como Duico.
Apresentado aos malabares há
cinco anos, virou um aficionado
pela atividade. Há seis meses, começou a organizar no Projeto
Aprendiz, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), um encontro semanal de malabaristas. A
reunião atrai umas 30 pessoas
-advogados, atores, bancários
etc.. É a redescoberta do mundo
circense -em especial, o malabarismo- pela classe média.
O estudante de direito Rodrigo
Buchiniani, 24, que integra o grupo formado por Duico, leva as bolinhas de malabares até para a faculdade. Durante as aulas, escreve
com a mão direita, enquanto gira
uma bolinha com a esquerda.
Embora não pense em ser malabarista profissional, inclui a atividade nos planos para o futuro:
"Quero ter meu escritório, meu
terno, minha gravata e as minhas
bolinhas de malabares".
A atriz Gabriela Scarcelli, 26,
chegou a montar em sua casa de
veraneio em Ubatuba (litoral norte) alguns equipamentos de circo.
"Muitas peças incluem atividades
como o malabares. O circo me
deu mais força muscular e consciência corporal", diz.
Uma das explicações para a tendência é o surgimento do chamado "circo contemporâneo", representado pelo Cirque du Soleil,
que trouxe um avanço estético
aos espetáculos, com iluminação
e figurinos diferenciados. Seu
fundador, o canadense Guy Laliberté, estreou neste ano no ranking das pessoas mais ricas do
mundo elaborado pela Forbes.
Está em 514º lugar, com uma fortuna de US$ 1,1 bilhão.
Fascínio do circo
"O circo sempre despertou fascinação na camada popular e, na
classe alta, preconceito. Isso tem
mudado", afirma José Wilson
Moura Leite, proprietário da Circo Escola Picadeiro.
Reflexo disso é o resort Super
Clubs Breezes Costa do Sauípe
(BA), que tem entre suas atrações
aulas de circo para os hóspedes.
Com a demanda por apresentações em hotéis, festas e eventos,
Duico afirma que conseguiu alcançar o mesmo padrão de vida
que tinha quando era advogado.
"Mas o mais importante é que tenho muito prazer no que faço."
Na Central do Circo, há um curso profissionalizante de arte circense, que dura três anos.
Existem duas explicações para a
moda dos malabares. A primeira
é a chegada ao Brasil de muitos argentinos (devido à crise econômica de seu país), que começaram a
jogar malabares nos semáforos.
"Eles têm tradição nisso, além da
cultura de shows de rua", diz Duico. E a meninada que pede dinheiro nas ruas, claro, logo percebeu o chamariz da técnica.
A segunda explicação é a popularização, no Brasil, das raves
-festas de música eletrônica, geralmente realizadas ao ar livre-,
nas quais são comuns shows de
malabares. "Eu via nas raves e
achava aquilo muito interessante", lembra a estudante de hotelaria Lívia Spinola di Medio, 22, que
há dois anos freqüenta o Circo Escola Picadeiro, onde descobriu
uma nova forma de se exercitar.
"Nunca gostei de esportes. Aqui,
emagreci e ganhei músculos."
"Esse é o perfil da maioria dos
nossos alunos", afirma a professora de malabarismo do circo,
Sandra Lins, 43. "São pessoas que
não querem ir a academias ou
profissionais que, após um dia estressante, vêm para relaxar."
Na primeira aula, ela ensina o
movimento mais simples - com
duas bolas, fazer um X no ar, passando-as de uma mão à outra.
"Viu como você consegue?", diz,
quando a proeza é alcançada,
após dez tentativas frustradas.
"Uma das vantagens do malabares é que, além de exigir concentração e capacidade motora,
mostra ao aluno que, para atingir
seus objetivos, ele deve trabalhar
muito", afirma Maurício Tricate,
diretor do colégio Magno/Mágico
de Oz, que oferece aulas extracurriculares de circo aos alunos.
Pesquisa
Além disso, uma pesquisa realizada pela Universidade de Regensburg (Alemanha) e publicada
na revista científica "Nature"
mostrou que a prática de malabares pode gerar mudanças na estrutura cerebral. Os pesquisadores acompanharam um grupo de
24 pessoas, das quais metade começou a treinar malabares.
Após três meses, os pesquisadores descobriram, com uma técnica que mede a concentração do
tecido cerebral, que, no grupo que
havia treinado, houve um aumento de 3% em duas regiões responsáveis pelo processamento visual.
No grupo que não treinou, não
houve alteração.
Nos três meses seguintes, a
orientação foi a de que o grupo
parasse o treino. Um novo exame
mostrou que as regiões haviam
voltado quase ao estágio inicial.
Sinal de que os malabares podem ser mais que uma diversão.
(AMARÍLIS LAGE)
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