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Educadores divergem sobre exame
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialistas em educação consultados pela Folha divergem sobre a importância e a eficiência do
Exame Nacional do Ensino Médio. O filósofo e educador Mário
Sérgio Cortella, professor da
PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo) considera
importante a realização de avaliações que façam diagnósticos da
educação brasileira, desde que
sirvam para pautar as mudanças
que se façam necessárias.
Mesmo não sendo o objetivo
principal da prova avaliar o sistema de ensino, ele considera que o
Enem poderia ser um bom ponto
de partida para essas mudanças.
"Seria interessante que o Enem
não fosse usado apenas para atenuar o trauma do vestibular. Os
sistemas de avaliação brasileiros
hoje são como autópsias, em que
se examina a situação e não se faz
mais nada. É preciso que as avaliações funcionem como biópsias,
em que o exame tem como finalidade manter a vida, resolver os
problemas", disse ele.
Já Sônia Miriam Draibe, professora do Núcleo de Pesquisas em
Políticas Públicas da Unicamp,
considera que "cada sistema de
avaliação sozinho não é suficiente
para resolver muita coisa", mas
que funcionando em conjunto
ajudariam a formar um indicativo
importante da situação da educação brasileira.
Segundo a professora da Unicamp, os sistemas de avaliação
tendem a ficar mais complexos,
com aplicação de diferentes provas se complementando. "É possível dizer que nós estamos em
um bom caminho nesse sentido.
Acho que com o tempo podemos
tornar essas avaliações mais completas", disse Miriam.
O vice-diretor da Faculdade de
Educação da USP (Universidade
de São Paulo), Nelio Bizzo, é o
educador mais crítico em relação
ao Enem. Ele considera papel das
escolas, e não de um exame nacional, oferecer instrumentos aos
alunos para que eles se auto-avaliem. "O que me parece é que o
Ministério da Educação quer suplementar a escola, fazendo uma
coisa que ela deveria fazer e não
faz. Não acho bom uma prova
que custa R$ 63 milhões só para
dar uma idéia para o aluno se ele
tem estruturas de pensamento
adequada", disse ele, que também
é conselheiro da câmara de ensino básico do Conselho Nacional
de Educação do MEC.
Para Bizzo, o Enem seria mais
eficiente se fosse acompanhado
de uma programação de medidas.
"Uma avaliação faz sentido para
saber se as coisas estão caminhando no sentido em que você planejou. Se ela se restringe apenas à
prova, pode-se chegar a que tipo
de conclusões do tipo os pobres
vão mal, os ricos vão bem. Isso
nós já sabemos que acontece, não
seria preciso gastar R$ 63 milhões
para descobrir."
Outro professor da Faculdade
de Educação da USP, Nilson José
Machado, que participou da organização do Enem desde a sua
criação até o ano passado, considera uma avaliação individual
importante ao término do ensino
médio. "Todo percurso educacional precisa ser avaliado ao seu final. Sem avaliação, o percurso
não é completo".
Segundo ele, a avaliação feita
pelo Enem tem um caráter diferente das que são realizadas nas
escolas e nos vestibulares. "A
grande inovação do Enem foi sua
perspectiva de avaliar pessoas e
suas competências."
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