São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011 |
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Para setor imobiliário, casa sozinha vira "mico" Alternativa é alugar imóvel ou transformá-lo em uso comercial Construtoras buscam terrenos em bairros antigos para tentar suprir falta de áreas para novos prédios
DE SÃO PAULO Uma a uma, o psicólogo Osvaldo Cardoso, 61, viu sete casas vizinhas serem demolidas. Primeiro, as duas atrás da sua. Depois, a do lado direito. As outras seguiram, como dominó. Recebeu duas propostas da construtora. A primeira, de R$ 600 mil -depois o valor subiu para R$ 900 mil. Ele diz que não quis vender o imóvel na Vila Madalena (zona oeste) porque a casa sempre foi da família. Além disso, pelo valor oferecido, segundo ele, seria difícil encontrar casa semelhante no mesmo bairro. Cardoso conta que sentiu os efeitos da obra. A parede lateral do imóvel rachou em dois pontos e, em outro canto, houve infiltrações. Um dia, viu o muro tremer -a retroescavadeira batia ao mexer no terreno. Para se desculpar, a empresa o presenteou com uma caixa de brigadeiro e se comprometeu a ressarcir os danos do imóvel. Ele diz não estar arrependido, mas, no jargão imobiliário, os imóveis que resistem são chamados de "micos". Encurralados após a construção dos prédios no entorno, se desvalorizam. A Folha ouviu famílias "espremidas" no meio de obras ou edifícios prontos, em bairros como Butantã, Santana, Pinheiros, Alto da Lapa, Saúde, Vila Mariana e Paraíso. Segundo especialistas, o assédio das construtoras aos moradores tem aumentado nos últimos anos devido à falta de terrenos livres, especialmente na região central _onde o número de empreendimentos subiu 25% no primeiro semestre. "É a saída do mercado imobiliário: buscar regiões com casas mais antigas e pessoas dispostas a vender para achar terrenos para incorporar", diz o economista-chefe do Secovi, Celso Petrucci. Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio), concorda. Segundo ele, a alternativa para quem tem um "mico" é alugar o imóvel ou montar um estabelecimento comercial, como um restaurante. PRESSÃO Moradores que "sobraram" reclamam da pressão exercida pelas empreiteiras. Segundo o advogado Edwin Britto, da comissão de direito urbanístico da OAB, os moradores não são obrigados a vender suas casas se não quiserem aceitar a oferta feita pela construtora. A aposentada Márcia Ranzani, 58, vendeu imóvel em Pinheiros após um ano de "namoro" da construtora. "Ficam sondando, querendo te amarrar. Se não vendemos, a casa fica micada." (NATÁLIA CANCIAN, CHICO FELITTI E CRISTINA MORENO DE CASTRO) FOLHA.com Veja vídeo sobre as casas folha.com/no979631 Próximo Texto: Construção se adapta a contorno de imóveis isolados Índice | Comunicar Erros |
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