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PASQUALE CIPRO NETO
"Doleiros intermed(e)iam propina...'
As gramáticas e os dicionários dizem que as exceções ficam por conta dos integrantes do "MARIO"
VÁRIOS LEITORES ESCREVERAM para o e-mail da coluna a respeito de um título publicado
pela Folha no último dia 21. Em algumas edições, saiu "intermediam" ("Doleiros intermediam
propina da Alstom"); em outras,
posteriores, saiu "intermedeiam".
Esse processo (alteração de uma
edição para outra) é comum, mais
comum do que se pensa. Muitas
vezes, o próprio jornal informa aos
leitores a execução da alteração.
O interessante é que a maioria
reclamou do título com "intermediam", mas houve quem reclamasse do que apresentava a forma "intermedeiam". Cá entre nós, esse
caso é mesmo chato, bem enjoado.
Com algumas exceções, no português formal do Brasil os verbos
terminados em "-iar" são regulares. As gramáticas e os dicionários
dizem que as exceções ficam por
conta do famoso MARIO ("mediar", "ansiar", "remediar", "incendiar" e "odiar"). Nas flexões "eu",
"tu", "ele" e "eles" dos dois presentes (do indicativo e do subjuntivo),
esses verbos seguem o padrão dos
terminados em "-ear": "medeio,
medeias, medeia, mediamos, mediais, medeiam" ("anseio, anseias,
anseia..."; "remedeio, remedeias...";
"incendeio..."; "odeio..."). Derivado
de "mediar", o verbo "intermediar"
vai atrás do "pai" (ou "mãe).
Um desses derivados é o bendito
"intermediar", do qual se faz "intermedeio, intermedeias, intermedeia...". Mas, cá entre nós, como diz
Jô Soares em relação ao gênero
masculino de "grama" ("duzentos
gramas de queijo"), essas formas
de "intermediar" causam uma certa aflição, não acha? Posso estar
enganado, mas parece que o caminho de "mediar" e "intermediar" é
o da regularização. Sim, o de serem
conjugados como os regulares, isto
é, como a maior parte dos verbos
terminados em "-iar". Bem, como
não sou adepto de futurologias lingüísticas, digo que hoje, no português (brasileiro) padrão, os membros do "MARIO" são irregulares,
ou seja, são flexionados de acordo
com o processo que já expus.
A esta altura, alguém talvez esteja perguntando por que frisei bem
"português (brasileiro) padrão".
Por duas razões. A primeira é que,
em Portugal, a lista dos irregulares
terminados em "-iar" é maior do
que a nossa. Experimente procurar
no "Dicionário Universal da Língua Portuguesa" (da Texto Editora
-disponível para os assinantes do
UOL) o verbo "premiar". Depois de
clicar em "definir", clique em "conjugar". Sabe o que aparece no presente do indicativo? Curto e grosso: "premeio, premeias, premeia,
premiamos, premiais, premeiam".
Necas de pitibiribas para o uso no
português padrão brasileiro.
A segunda razão é que, no português oral do Brasil, verbos como
"anunciar", "policiar", "angustiar",
"denunciar" etc. costumam apresentar as flexões regulares ("anuncia/m", "policia/m", "angustia/m",
"denuncia/m"), mas com verbos
como "variar", "premiar" ou "negociar", registram-se oscilações
entre "varia", "premia" e "negocia"
(na norma urbana culta) e "vareia",
"premeia" e "negoceia" (no registro "ruralizante ou popularizante",
como diz o "Houaiss" em seu bom
comentário sobre a flexão dos verbos terminados em "-iar").
Por fim, convém insistir em que,
no padrão formal brasileiro, os verbos do grupo "MARIO" (e derivados) são irregulares. É isso.
inculta@uol.com.br
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