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Fiscal é suspeito de receber propina de boate
Funcionário da Subprefeitura da Sé teria recebido R$ 500 para retardar processo de fiscalização de prostíbulo na Bela Vista
Gravações feitas pela PF mostram suposto acordo de pagamento de propina para fiscal; local vai ser fechado hoje pela prefeitura
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um fiscal da Subprefeitura
da Sé teria recebido propina de
R$ 500 para fazer retardar a fiscalização em uma casa de prostituição na rua Peixoto Gomide, na Bela Vista (centro de SP).
Isso é o que apontam os
grampos telefônicos da Operação Santa Tereza, da Polícia Federal, que investigou a suposta
lavagem de dinheiro desviado
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) na WE, a casa de prostituição de luxo. O esquema envolveria também o deputado
federal Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho da Força (PDT).
Diálogos gravados pela PF
com autorização judicial flagraram várias conversas de Wilson
de Barros Consani Junior, coronel reformado da PM e suposto responsável pela segurança da WE, com um engenheiro, identificado apenas como Flavio, nas quais eles tratam do pagamento de propina
para Missau, um fiscal da Subprefeitura da Sé. Ele foi identificado pela Folha como Missau
Yamasaki, engenheiro de licenciamento com mais de 25 anos
de trabalho na prefeitura.
A Folha tentou contato com
Missau. Na subprefeitura, a informação foi que ele não tinha
ido trabalhar ontem. Flavio e
Consani não foram localizados.
O imóvel foi lacrado ontem
pela prefeitura por irregularidades na construção e será emparedado hoje. A casa noturna
já havia sido interditada por
falta de segurança.
Pedidos de interferência
Nos grampos da Operação
Santa Tereza também há gravações de conversas de responsáveis pela WE com assessores do
presidente da Câmara, Antonio
Carlos Rodrigues (PR), com pedidos de interferência para que
a casa continuasse aberta.
Rodrigues confirma o contato com Consani, mas diz que,
quando soube do que se tratava, proibiu seus assessores de
tomar qualquer providência
em favor da casa noturna WE.
Propina
A propina de R$ 500 teria sido paga por Flavio na própria
subprefeitura. "Tá segurando
[o processo], tá parado. Eu dei o
dinheirinho do Missau para ele
não encher o saco. Ele falou, pô,
os caras estão pedindo minha
cabeça", diz o engenheiro em
telefonema a Consani no dia 19
de março, às 16h09.
Missau também é chamado
de "Japonês" em outras conversas. A Polícia Federal monitorou os responsáveis pela WE
entre janeiro e abril deste ano.
As primeiras referências ao fiscal surgiram no dia 4 de março
em uma conversa entre Celso
de Jesus Murad, apontado como o responsável pelas finanças da casa, e Consani. A última
citação do fiscal aconteceu em
19 de março, quando ele já teria
recebido a propina.
Irregularidades
Até o dia 7 de março, não há
referências sobre questionamentos da prefeitura acerca de
irregularidades no imóvel ou
no empreendimento. A primeira contestação ocorreu com a
visita ao local feita pelo secretário da Habitação, Orlando de
Almeida Filho, que disse ter recebido uma denúncia.
Após a visita feita pelo secretário, o alvará foi indeferido e o
fiscal da subprefeitura foi supostamente corrompido para
retardar o processo.
O subprefeito da Sé, Amauri
Pastorello, disse que Missau
atua internamente, na aprovação de licenças de funcionamento. Ele admite que, até a intervenção do secretário da Habitação, o processo de licenciamento da WE estava regular.
"O processo deles estava em
ordem. A prefeitura não vai fazer fiscalização em todos os lugares. O que a gente sabe é que
o Missau só foi fazer vistoria
nesse lugar após a denúncia do
secretário da Habitação."
O subprefeito afirmou que o
fiscal será afastado de todo o
processo referente à WE e ao
imóvel na rua Peixoto Gomide.
A Corregedoria Geral da prefeitura informou ter pedido informações à Polícia Federal sobre
a suposta participação do funcionário no caso e que começará a investigar quando os dados
forem entregues.
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