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MIRIAM SMALETZ (1941-2008)
O lado mais doce da "morá" de hebraico
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Judeus nascidos em Israel
são familiarmente chamados
de "sabras", em alusão ao
cacto do deserto que, apesar
de espinhoso por fora, é doce
por dentro. Miriam Smaletz,
dizem os filhos, era como um
sabra -judia israelense que
viveu para ensinar hebraico
no Brasil e que, mesmo rígida e austera, guardava uma
docilidade sem tamanho.
Não foram poucos os alunos que "tiveram trauma" da
"morá" que ensinava hebraico no colégio Renascença,
em São Paulo. Era seu jeito,
diz a filha, de exigir de quem
mais gostava e julgava capaz.
"Se boa parte dos que estudaram lá, hoje, falam hebraico",
diz o filho, "é porque passaram pela mão dela".
Miriam chegou ao Brasil
em 1963, em passeio após
servir no exército de Israel,
onde nascera de pais judeus
poloneses. Aqui conheceu
um professor do colégio, noivo de outra Miriam. Foi tudo
rápido. No dia do casamento,
muitos se assustaram ao vê-la entrar -afinal, era Miriam, mas outra.
Defensora do hebraico na
formação dos judeus, cuidava, nos últimos 15 anos, de
um projeto de preparação
para o bat mitzvah, cerimônia que comemora a maturidade religiosa das meninas,
aos 12 anos. Cuidava do "papel da mulher judia".
Vaidosa até no hospital, fazia questão de suas roupas,
perfumes e sorrisos -era sua
maneira, diz o filho, de inverter a situação, guardar os espinhos e deixar a doçura no
lado de fora. Morreu domingo, de câncer, aos 66.
obituario@folhasp.com.br
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