São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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Preço do ônibus já é desafio para alunos

Apesar do medo da dívida, estudantes melhoram autoestima e ganham perspectivas com ingresso na faculdade

Escolha do curso muitas vezes é feita menos por vocação e mais em razão da oportunidade e incentivo de associações

EM SÃO PAULO

Desempregada, a dona de casa Lindinalva Alves Araújo procurava emprego na creche em Morro Doce (bairro onde vive, zona norte de SP), quando a associação de moradores local lhe sugeriu entrar para a faculdade.
Ela se inscreveu no curso de pedagogia da Uniesp, no centro de São Paulo, contando que pagaria a faculdade com o financiamento do Fies.
A mensalidade é de R$ 632 e o valor do financiamento previsto para todo o curso, pelo crédito estudantil, chega a quase R$ 40 mil.
O aluno começa a pagar o crédito educativo um ano e meio após a conclusão do curso. No caso de Lindinalva, significará uma mensalidade de R$ 296 por 15 anos.
Um receio comum dos alunos ouvidos pela reportagem é não conseguir quitar o crédito educativo. A dívida é o que mais os assusta.
A reportagem encontrou alunos que declaram ter dificuldade até para pagar a passagem de ônibus. Alguns estudantes relataram ter faltado uma semana de aula por não poder pagar o ônibus, e sugeriram que o governo custeie as passagens.

AUTOESTIMA
Marília Rangel, mãe de dois filhos, moradora de Cidade Tiradentes (na zona leste, a cerca de 35 km do centro de SP), passou roupa para terceiros, em casa, para conseguir o dinheiro da passagem.
Mesmo assim, ela se mostra orgulhosa de estar na faculdade. A melhora da autoestima e a da capacidade de expressão são apontadas entre os benefícios imediatos de estar na faculdade.
Valdecir Batista, vendedor em um supermercado do grupo Pão de Açúcar, também cursa pedagogia e diz ter sido estimulado a entrar para a faculdade pelo empregador.
A Folha constatou que a escolha do curso, na maioria dos casos, é feita em razão da oportunidade, e não por vocação. Andressa Dias dos Santos, 28, parou os estudos após ficar grávida, em 2000.
Como auxiliar de licitações em uma empresa de distribuição de medicamentos, descobriu que não tinha vocação para trabalhar em escritório, mas não sabia o que fazer.
Estimulada pela associação de moradores de Bom Jardim (região do Butantã, zona oeste de SP), fez o teste para o curso de educação física e espera se qualificar para prestar um concurso público.
A amiga Luíza Campelo, 39, desempregada, se inscreveu no curso de enfermagem e também sonha em ser funcionária do Estado ou da Prefeitura de São Paulo.
O pai, Manoelito Santos, 58, mestre de obras, decidiu cursar música ou matemática, contando também com o acesso ao crédito educativo.
Eleitor de Lula, ele atribui ao ex-presidente o ingresso da população de baixa renda nas faculdades.


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