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DANUZA LEÃO
As escolhas
De vez em quando, fico pensando em coisas bem absurdas, tipo: o que seria pior, viver
sem ar-condicionado ou sem telefone? Claro que esses pensamentos têm a finalidade exclusiva de
esquentar bastante a minha cabeça e, apesar de nunca ter certeza de minhas preferências, me
obrigo a ter que decidir -e não
vale escolher o ar-condicionado
no verão. E você, prefere ficar sem
luz ou sem água? Difícil escolha,
não?
Se tivesse que eleger uma única
cidade no mundo para onde pudesse viajar quantas vezes quisesse até o fim dos seus dias -mas só
pode ser uma-, qual seria ela?
Grande problema.
Nova York está meio fora de
questão, por razões óbvias; Paris é
sempre uma maravilha, mas, depois de a decisão tomada, você
não poderia nunca mais ir àquela
praia do Nordeste que ama tanto,
nem passar o fim de semana numa pousada na montanha, nada;
viveria o resto da vida entre a cidade em que mora e Paris -e assim fica meio sem graça, não?
Quais são os seus três pratos
prediletos? A escolha é livre e pode
ir de uma feijoada ao melhor foie
gras do mundo, mas até o último
dos seus dias você só teria o direito de comer essas três coisas, no
almoço e no jantar. OK, não vamos radicalizar, cinco. Mas não
seria insuportável saber que ia ter
que ficar só nelas para o resto da
vida?
Essas bobagens me levam a
pensar que qualquer coisa que se
sabe ser eterna perde seu encanto
e que a graça é o inesperado, mesmo correndo o risco de sofrer. Vamos supor que sua vida esteja ótima, em todos os sentidos; se descesse um anjo do céu e dissesse
que ela vai continuar assim, sem
uma só novidade, um só imprevisto, para sempre, e talvez pior:
que sua vida vai ser não só sempre igual, como também eterna.
Tem castigo maior?
Aí você casa e jura, diante de
Deus, que vai amar aquele homem para sempre -e ele a você,
claro. Não tem nada melhor no
mundo do que amar um homem
loucamente e ter a certeza absoluta de que ele só pensa em você,
que jamais olhará para outra
mulher, que se Catherine Zeta Jones aparecer nua diante dele será
dispensada, pois ele só quer você.
Maravilhoso, não? Sim, mas em
termos.
Sabendo que não corre nenhum
risco, você vai relaxar e até mesmo desvalorizar o homem que
tem a seu lado. Nada como um
certo perigo e alguma insegurança que façam você viver mais ou
menos no fio da navalha para
que a vida tenha mais sabor. A
monotonia, o previsível, o que se
espera (e acaba sempre acontecendo) podem fazer da vida uma
monotonia extrema.
Mas as coisas não são assim tão
fáceis. Voltando ao marido, você
tem duas opções, sendo que a primeira seria ter um que chegasse
toda noite às 7h30, com um pacotinho de biscoitos amanteigados,
que fosse fiel como um cão, que te
desse todas as certezas do mundo
e que, como quase todo homem
muito fiel, fosse meio sem imaginação, incapaz de grandes arroubos, a tal ponto que às vezes você
se pegasse sonhando com alguma
coisa que não sabe bem o que é,
mas que não tem nada a ver com
ele.
Já a segunda opção seria um
homem cheio de criatividade, que
de vez em quando te agarrasse
querendo ir aos finalmente dentro do elevador, um homem cheio
de surpresas, capaz de vender o
carro para levar você ao Caribe e
que te deixasse sempre ligada na
tomada, sabendo -ou achando- que, se passar uma vadia,
ele é bem capaz você bem sabe de
que, como aliás fez com você.
Você tem certeza de qual dos
dois escolheria? Certeza absoluta?
Pois eu não.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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