|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA DOS SEXOS
Autora do livro "Porque Não Sobraram Homens Bons" diz que é preciso explorar novas tecnologias para achar parceiro
Solteira precisa reaprender a encontrar par
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os percalços que as mulheres
bem-sucedidas próximas dos 30
anos enfrentam para encontrar
um parceiro com quem viver e ter
filhos refletem a falência dos sistemas tradicionais de corte amorosa e a ausência de um novo modelo que os substituam. A tese é defendida pela norte-americana
Barbara Dafoe Whitehead, 58,
que há quase três décadas se dedica ao estudo da família e dos relacionamentos entre os dois sexos.
Perdidas em uma busca solitária, sem regras e instituições que
as orientem, mulheres solteiras
repetem em todas as grandes cidades do Ocidente: "Não há mais
homens". O lamento serviu de
inspiração ao livro "Porque Não
Sobraram Homens Bons", de
Whitehead, que acaba de ser lançado no Brasil.
Apesar do título, a autora conclui que eles existem, mas não podem ser encontrados da mesma
maneira que as mães das atuais
solteiras encontraram seus maridos. As três instituições que tinham destaque na aproximação
entre homens e mulheres -escola, família e igreja- perderam
importância nesse terreno e não
surgiu nada no lugar.
"A difícil situação amorosa da
nova mulher solteira de hoje em
dia é resultado da crise contemporânea no mundo dos encontros
e das uniões", diz o livro. A saída é
o uso de novas tecnologias, como
a internet, e de serviços de aproximação de solteiros.
Autora de livros sobre família e
divórcio e diretora do centro de
pesquisa "Projeto Nacional do
Casamento", Whitehead deu entrevista por telefone à Folha:
Folha - Não sobraram bons homens ou as mulheres não sabem
onde encontrá-los?
Barbara Dafoe Whitehead - A segunda afirmação é mais correta,
mas as mulheres expressam sua
frustração em relação à impossibilidade de encontrar um parceiro dizendo "eu desisto, não sobraram homens bons". É uma idéia
popular. Não é verdade que não
sobraram homens bons. O problema é encontrar o homem certo
no momento certo da vida. E isso
se mostra muito difícil para mulheres jovens, instruídas, simpáticas e atraentes.
Folha - E há alguma saída?
Whitehead - Há novas abordagens para encontrar o marido
perfeito. Um dos caminhos é usar
a tecnologia moderna e serviços
comerciais para buscar um parceiro. Uma das coisas importantes que aconteceu no mundo da
corte amorosa é que as três grandes instituições que antes ajudavam homens e mulheres a se encontrar com o objetivo de se casar
e ter filhos eram a família, a escola
e igrejas. E nenhuma dessas instituições têm um papel importante
hoje em ajudar as pessoas a encontrar parceiros adequados.
Mulheres estão olhando para a
tecnologia e novos serviços que
estão no mercado, tentando novas abordagens, mas não há uma
grande resposta que vá funcionar
de maneira efetiva. Estamos em
um período de transição.
Folha - A internet pode ser a nova
instituição para o encontro?
Whitehead - Eu tenho um pouco
de dúvidas. A internet já se institucionalizou como opção para expandir as possibilidades de encontro entre homens e mulheres.
Mas sou cética porque é algo sujeito a muita decepção. As pessoas
não dizem a verdade sobre quem
elas são e como se parecem. Elas
normalmente se apresentam com
mais cabelo e menos peso do que
têm, e também como sendo mais
jovens. Homens também se dizem disponíveis e algumas vezes
são casados ou já têm um relacionamento com outra mulher.
Em sistemas anteriores, era possível conhecer mais sobre uma
pessoa por meio de amigos, vizinhos, a comunidade. As pessoas
são deixadas sozinhas na tarefa de
encontrar alguém com quem ter
uma corte amorosa. Não há muitas instituições envolvidas nisso.
É um processo solitário e isolado.
Folha - A sociedade deveria ter
um papel mais importante?
Whitehead - Todas as sociedades
têm um papel em proporcionar o
encontro entre pessoas tendo em
vista o casamento e filhos. Todas
as sociedades têm o que podemos
chamar de "sistema de acasalamento". Acho que seria muito
inusual uma sociedade dizer que
não se importa com isso ou que
homens e mulheres devem cuidar
disso completamente sozinhos.
Folha - O que diferencia a mulher
solteira com educação superior da
do passado?
Whitehead - Em primeiro lugar,
ela tem uma educação mais sofisticada que à das solteiras do passado. É capaz de trabalhar e ganhar dinheiro sozinha e, por isso,
pode ficar longe de sua família, se
assim quiser. Ela se vê como sexualmente liberada, tem amantes,
pode decidir viver com um namorado e não depende do casamento
para seu bem-estar econômico.
Algumas pessoas acham que esse é um retrato negativo, mas as
mulheres que eu entrevistei e que
se encaixam nesse perfil são charmosas, dedicadas, muito atraentes, com grandes conquistas e, ao
mesmo tempo, boas e doces. Não
é um retrato ruim como às vezes
aparece na mídia popular.
Folha - E por que essas mulheres
não conseguem encontrar um homem para estar com elas?
Whitehead - Temos de olhar isso
de uma perspectiva histórica e entender que mudou o que as mulheres esperam de um companheiro para o casamento. Passou
do perfil de um bom provedor
econômico para um homem que
tenha mais qualidades emocionais, seja capaz de se comunicar e
tenha profunda empatia emocional com a mulher.
De certa maneira, as mulheres
precisam do que os homens sempre quiseram, que é um parceiro
que as apóie. Algumas dessas características são as que os homens
buscam em uma esposa. E mulheres estão procurando por esse tipo de apoio emocional, além de
fidelidade na relação. E eles não
foram necessariamente socializados para dar essas coisas. Então
há um choque entre o que as mulheres esperam para ser felizes em
um casamento e o que os homens
são capazes de dar.
Folha - Não é uma ironia que no
pós-feminismo mulheres que conseguiram tudo o que as mulheres
queriam se sintam frustradas porque não têm um homem?
Whitehead -É uma consequência não planejada do esforço das
mulheres de terem igualdade com
os homens no mundo público e
do trabalho. Ninguém realmente
esperava que as mulheres iriam
sentir falta de algumas das coisas
mais tradicionais.
Eu cresci durante o movimento
de liberação feminina e me lembro que a idéia era que as mulheres deveriam renegar o casamento e não ter filhos para ter sucesso
nos estudos e no trabalho. Querer
casar e ter filhos era considerado
uma falta de ambição.
Hoje eu vejo mulheres bastante
ambiciosas que querem intimidade, romance, casamento e filhos.
É uma mudança de gerações. As
mulheres que conquistaram carreiras, que era o sonho que suas
mães nem sempre puderam realizar, estão agora olhando para o
que suas mães tiveram.
As mulheres estão percebendo
que ao lado de se dedicar a estudar e iniciar suas carreiras aos 20
anos, elas não podem se esquecer
do outro objetivo, que é encontrar
alguém com quem dividir a vida.
Não é possível achar que o amor
vai aparecer em um momento
mágico, porque não é assim que
as coisas acontecem.
Folha - No livro a sra. parece mais
otimista em relação à internet.
Whitehead - Sou otimista porque é um das inovações que responde às tendências que eu descobri. É uma tecnologia que se
adequa bem ao padrão de trabalho e vida ocupada que as pessoas
têm. Independentemente de eu
achar que vai funcionar ou não,
estou convencida de que terá um
papel importante. Mas outras coisas vão surgir. O movimento global é uma mudança de família, escola, igreja e comunidade para o
mercado e novas tecnologias.
Folha - Além da internet, que outras tecnologias podem ser úteis?
Whitehead - Há todas as formas
de inovações que estão sendo lançadas comercialmente. Pessoas
que trabalham como consultores
de corte amorosa, que cobram
preços altos por seus serviços e
treinam pessoas para se apresentar, como flertar, como atrair o sexo oposto, onde ir para encontrar
essas pessoas.
Há clubes de encontro e eventos
sociais que tentam aproximar
pessoas solteiras. E há livros, colunas, jornais, revistas que dizem a
pessoas solteiras onde devem ir
para encontrar outras pessoas
solteiras, há muita coisa sobre estratégias. Há uma explosão de livros de aconselhamento e de autores que têm estratégias profissionais de conquista, sistemas que
pessoas podem adotar com o objetivo de encontrar um parceiro.
Folha - Quanto tempo vai durar
essa transição?
Whitehead - Pode levar uma geração. As mulheres que eu descrevo são parte de uma mudança generacional. Os que estão crescendo na geração mais jovem, atrás
dos jovens adultos de hoje, devem
ter algo mais sólido e seguro ou
pelo menos mais consciência de
como as coisas mudaram.
Não sei o quanto as mulheres
bem-sucedidas que entrevistei assumiram que, apesar de serem
muito diferentes de suas mães na
vida profissional, teriam o mesmo
padrão de corte amorosa que elas,
e achariam o homem de seus sonhos quando decidissem casar. O
que estão vendo é que isso não
funciona. Meninos e meninas de
hoje talvez tenham mais consciência disso no futuro.
Folha - Homens solteiros não enfrentam os mesmos problemas?
Whitehead - Os homens dizem
que sim. Uma das respostas populares de homens ao livro tem sido dizer "eu quero casar e não sobraram boas mulheres". Mas há
uma diferença: os homens podem
adiar o casamento e ter parceiras
diferentes por mais tempo sem se
preocupar em ter filhos.
Folha - Que conselho a sra. daria a
mulheres bem-sucedidas que querem encontrar alguém?
Whitehead - O livro não é sobre
conselhos, mas todos me pedem.
Repetiria o que digo a minhas filhas. A maioria das mulheres vai
encontrar alguém com quem
queiram casar. É importante não
desanimar e não levar a uma nova
relação desapontamentos de um
relacionamento fracassado. Seja
otimista, sociável, aproveite a vida
e não entre em pânico sobre encontrar ou não um homem bom.
Texto Anterior: Cinco escritórios serão instalados até julho próximo Próximo Texto: Mortes Índice
|