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ENTREVISTA
Brasileiro quer ampliar cirurgias
de obesidade em todo o mundo
DA REPORTAGEM LOCAL
Um brasileiro assumirá pela
primeira vez a presidência da Federação Internacional de Cirurgias de Obesidade (IFSO), que
congrega todas as sociedades internacionais da área.
A cirurgia de obesidade, ou cirurgia bariátrica, é utilizada para
emagrecimento. Realiza reduções
ou "desvios" no tubo digestivo de
obesos mórbidos -pessoas que
têm IMC (Índice de Massa Corporal, peso dividido pela altura ao
quadrado) a partir de 35.
Estima-se que no Brasil 1 milhão de pessoas necessitem da cirurgia.
Arthur Garrido Júnior, 62, um
dos pioneiros na técnica no Brasil,
tomará posse em setembro de
2004. Segundo ele, a sociedade
brasileira, da qual ele já foi presidente, é uma das mais importantes "em número de profissionais e
atividade". Daí sua escolha para o
cargo. Cerca de 600 cirurgiões no
país realizam o procedimento,
metade do total de especialistas
dos EUA, onde o problema da
obesidade mórbida é maior.
Abaixo, trechos da entrevista que
concedeu à Folha:
Folha - Quando a cirurgia começou a ser feita?
Arthur Garrido Júnior - No mundo isso começa em 1954, nos
EUA, mas as técnicas eram muito
ruins. A idéia surgiu por causa da
aplicação da cirurgia de redução
para outras razões. Viram que diminuía o peso. Aqui no Brasil, começamos há 25 anos. Mas foi nos
últimos cinco, dez anos que isso
se desenvolveu muito.
Folha - Quais foram as evoluções
dos últimos tempos?
Garrido Júnior - Há vários tipos
de técnica para diminuir a capacidade do tubo digestivo. Uma das
mais recentes faz um desvio no
intestino, diminuindo a absorção
dos alimentos. Não há um método único, que sirva para tudo.
-Folha - E quantos têm acesso ao
tratamento?
Garrido Júnior - Hoje estima-se
que já tenham sido realizadas de
12 mil a 15 mil cirurgias. Para 1 milhão de pessoas, é uma gota d'água. O SUS [Sistema Único de
Saúde] incorporou a cirurgia no
ano 2000, em todos os Estados há
centros. Mas há uma grande espera. As seguradoras [seguros, planos de saúde] não cobrem 20%
dos que precisam. E não é só no
Brasil que o número de operados
é menor do que a demanda. Nos
EUA, o problema é quase da mesma proporção.
Folha - Sem a cirurgia, que qualidade de vida têm os obesos mórbidos?
Garrido Júnior - A mortalidade
de obesos mórbidos é de 6% a
12% maior do que a população
em geral. São pessoas muito
doentes. De 15% a 20% têm diabetes. De 30% a 40%, hipertensão
arterial. E mais de 50% sofrem de
dificuldades respiratórias. A qualidade de vida é muito prejudicada. Além disso, há obviamente os
problemas de adaptação social.
Folha - Quais serão seus principais desafios na presidência da entidade?
Garrido Júnior - O primeiro é
justamente estender o tratamento. As pessoas não têm acesso por
várias razões, seja por limitações
do sistema hospitalar, seja porque
os profissionais não estão bem
treinados. A idéia é facilitar o treinamento, progredir em busca de
métodos mais eficientes e com
menos efeitos negativos.
Folha - Quais são as complicações
mais comuns?
Garrido Júnior - De uma eficiência menor, um maior índice de
complicações cirúrgicas, à possibilidade de sequelas nutricionais
e problemas de adaptação.
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