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DANUZA LEÃO
Os clones
A novela carioca protagonizada pela dupla Rosinha/
Garotinho não tem fim. O último
capítulo foi fartamente televisionado: na hora de matar a barata,
a governadora, eleita gloriosamente no primeiro turno, chamou o marido.
O casal inventa as verdades que
quer, sem nenhum escrúpulo, e
põe a culpa de suas incompetências em quem estiver mais à mão.
Em sã consciência: você compraria um carro usado de Garotinho?
A dupla do chuvisco fala muito
e rápido, para não dar tempo para que as pessoas reflitam sobre o
que estão dizendo. Para os mais
atentos, é "coisa de radialista"
-uma injustiça com a classe, que
não merece. Agora, Rosinha conseguiu dar munição a todos que
pensam, mesmo que não falem,
que mulher não tem capacidade
para exercer cargos de responsabilidade na vida pública.
Foi uma derrota para o sexo feminino? Nem tanto. Nenhuma
mulher considerou grandes coisas
a sua vitória na eleição. Mas é
preciso reconhecer que ela é atrevida (no pior sentido). Depois de
uma semana de violências na cidade, Rosinha oficializou o que
todo mundo já sabia: quem governou o nosso pobre Estado, por
debaixo do pano -ou seria dos
lençóis?-, foi sempre Garotinho.
Um é clone do outro (quem de
quem?) e, com nove filhos, sempre
haverá um em idade legal para se
candidatar e continuar a dinastia. Pobres de nós.
Quem vive no Rio hoje sai pouco, de medo. Tenho amigos que
venderam o carro com medo de
assalto, quem toma táxi para ir
de um bairro para o outro evita os
túneis, e só se tem uma certa tranquilidade em casa, com a porta
trancada. Está muito difícil viver
e morrer também: por falta de segurança, Mauro Rasi não teve direito a um velório.
Mas às vezes, por alguns momentos, a gente esquece. Outro
dia acordei muito cedo e fui pegar
o jornal na porta; o sol entrava
pela janela e o primeiro pensamento foi "mas que dia lindo".
Detalhe: um dia lindo no Rio é
mais lindo do que na maioria das
cidades do mundo. Foi só pegar o
jornal e ver as brabeiras da véspera para voltar ao normal, que é
viver com medo. É muito ruim ter
medo o tempo todo.
Alguns de nós, cariocas e fluminenses, têm um consolo: não foi
com o nosso voto que Rosinha se
elegeu, e está na hora de chamar
os padres, os pais-de-santo, Jeová,
um aiatolá, quem for, para benzer o nosso pobre Estado; só pode
ter sido trabalho daqueles bem
carregados, com muito bode e
muita galinha preta para as coisas chegarem a esse ponto.
Mas se for preciso suportar o casal no governo por mais um tempo, mesmo sabendo que a ex-cidade maravilhosa vai -peço
desculpas, mas é irresistível usar a
palavra dita publicamente pela
governadora- se "avacalhar"
ainda mais, mas na esperança de
que este pode ser o último capítulo dos Garotinhos na vida pública, vai valer a pena.
É engraçado: em quase todas as
situações, a gente, certo ou errado, acha que saberia como resolver, dá palpites, diz que o governo
deveria fazer assim ou assado.
Mas desta vez está difícil, e qualquer descuido pode ser fatal.
Um passo em falso e a dupla vira mártir. A platéia para ouvir
suas lamúrias está sendo
cultivada há anos, e é audiência
garantida.
E haja paciência: esses três anos
vão custar a passar.
P.S.: Uma modesta sugestão para
a reforma do Judiciário: adotar o
abrandamento da pena para os
criminosos que ajudarem a Justiça a ser feita -o que poderia ser
de grande utilidade no caso dos
fiscais da Receita do Estado do
Rio, por exemplo.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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