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Assentamento em Guarulhos é modelo para sem-teto
DA REPORTAGEM LOCAL
A evolução do acampamento
Santo Dias, no terreno da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, tem como espelho, no futuro,
caso os 4.000 invasores consigam
permanecer no local, o assentamento Anita Garibaldi, em Guarulhos, também na Grande SP.
O local, de 1,139 milhão de metros quadrados, no bairro de Bonsucesso, periferia da cidade, está
tomado por barracos de madeira.
Mas existe uma organização no
que se poderia chamar de favela.
As 1.890 famílias que moram no
local estão divididas em lotes de
cem metros quadrados.
As ruas, todas de terra, seguem
o traçado de um loteamento, que
contou com a ajuda de estudantes
da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), da USP.
Há luz, puxada clandestinamente, e água, embora nas casas
mais ao fundo do assentamento
só chegue em caminhão pipa.
Uma pequena horta e uma farmácia, ambas comunitárias, auxiliam os moradores. A ocupação,
executada em maio de 2001, foi
planejada quatro meses antes. Até
hoje, porém, ainda não há uma
definição sobre a posse da área.
Carlos Alves, cantor que percorreu o Norte e o Nordeste do país,
na década de 80, cantando em restaurantes e bares e chegou a gravar um disco, foi um dos primeiros invasores. "Cheguei aqui em
19 de maio de 2001 e na área só havia mato, carros e cadáveres."
Alves parou de cantar por causa
de uma meningite -"Tive de
vender casa e carro para me tratar"- e hoje tem um bar na rua
principal do assentamento. "A vida aqui foi dura; matei cobra, sangrei minhas mãos cortando madeira, mas, afinal, valeu a pena."
Os pedreiros Jairo Ferreira dos
Santos, 42, e Ailton Manoel da
Cruz, 33, também lembram das
dificuldades. "As ruas aqui foram
abertas sem ajuda de máquinas;
foi tudo na mão mesmo", afirma
Santos. "A gente só está esperando regularizar a situação para
construir nossas casas com blocos
de cimento", planeja Cruz. Ambos trabalham na manutenção de
um conjunto habitacional da
CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano),
num bairro próximo.
O porteiro João Antonio, 34, é
mais novo no assentamento. Ele
morava de aluguel em Cidade
A.E.Carvalho, na zona leste de São
Paulo, e soube por um amigo que
estavam vendendo um barraco
no local. Resolveu deixar a casa,
pela qual pagava R$ 400 mensais,
e investir R$ 1.300 na compra do
novo imóvel. Ele mora no Anita
Garibaldi há pouco mais de um
ano. De férias, ajuda a mulher a
vender detergentes, balas e desinfetantes. "A gente tem de se virar."
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