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HABITAÇÃO
Existem no Reino Unido 18 mil pessoas que moram em locais invadidos; maioria tem baixa renda, mas há quem opte por isso
Ocupar casa abandonada é legal na Inglaterra
MARIA LUIZA ABBOTT
DE LONDRES
No Reino Unido, existem pelo
menos 18 mil pessoas que invadiram e moram em casas que estavam abandonadas. A maioria dos
"squatters", como são chamadas
essas pessoas, é jovem e mora em
Londres. Muitos são brasileiros,
embora não haja dados estatísticos precisos.
Normalmente são pessoas de
baixa renda e sem condições de
pagar os elevados aluguéis cobrados na cidade, informa a Advisory
Service for Squatters, uma associação que orienta os invasores
gratuitamente. No entanto, segundo a associação, alguns moram assim por já terem se acostumado a esse estilo de vida.
A invasão -para morar- de
casas ou apartamentos abandonados na Europa já foi, no auge
das manifestações estudantis de
1968, um ato de protesto contra o
capitalismo. Naquela época, apenas no Reino Unido, o número de
pessoas que moravam nesse tipo
de esquema superava 30 mil.
O "squatting" existe em outras
cidades européias, como Paris e
Berlim. No entanto, de acordo
com a associação, somente na Inglaterra e no País de Gales o movimento não é ilegal, se forem seguidas determinadas regras. Na
França, por exemplo, embora a
ocupação seja ilegal, entre novembro e março -os meses de
inverno- a polícia não pode colocar na rua nenhum invasor.
No Reino Unido, se as regras forem seguidas, o invasor só pode
ser retirado da residência depois
de um processo judicial. "Pode
demorar uns dois anos até que
saia a ordem de despejo", conta
uma porta-voz da associação, que
não quer ser identificada. A associação sobrevive com doações,
mas não é bem-vista por muitos
no país por causa do trabalho que
faz -como fornecer uma lista de
propriedades abandonadas a candidatos a "squatters".
Se o ocupante provar que ficou
12 anos morando no mesmo local,
pode até ganhar o direito à propriedade. Teoricamente, a polícia
não entra nas residências e o despejo é feito por oficiais de Justiça.
Entre as regras para que a ocupação não seja ilegal estão: proibição de arrombar a casa ou apartamento, é preciso ter certeza de
que não há ninguém morando e a
casa não pode ser o único imóvel
do proprietário.
"Conheço muitos brasileiros
que moram em "squats". É fácil, a
gente observa algum tempo para
ver se a casa está mesmo abandonada, entra por trás e troca a fechadura sem que ninguém veja",
conta Susana (nome fictício),
uma brasileira que mora há um
ano em uma casa que estava
abandonada, em Londres.
"Squat" é o nome dessas residências abandonadas e ocupadas.
A de Susana é uma casa de seis
quartos que ela divide com outros
três brasileiros, uma inglesa e dois
escoceses. Susana trabalha como
courier, entregando documentos
ou pequenos pacotes de bicicleta,
e recebe em torno de 150 libras
(cerca de R$ 750) por semana. Ficaria difícil pagar 50 libras (aproximadamente R$ 250) por semana pelo aluguel de um quarto -o
preço médio em Londres. Ela tem
passaporte de um país da União
Européia e, por isso, não tem problema de visto para ficar no Reino
Unido. Mas muitos brasileiros estão no país ilegalmente, o que torna arriscado viver em "squat",
pois, se forem descobertos, são
deportados imediatamente.
Segundo a associação, o número de invasores começou a cair no
início dos anos 90 porque as administrações regionais de Londres criaram um tipo de sistema
de cooperativa para os ocupantes:
um grupo de invasores, organizado em cooperativas, recebe casas
ou apartamentos que pertencem
às administrações, mas são difíceis de alugar. Normalmente, são
em zonas mal cuidadas da cidade
e as próprias casas estão em mau
estado de conservação. A administração autoriza o uso delas por
uma prazo de até 20 anos.
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